“Peço-vos, em nome de Deus. Dez orações para um futuro de esperança” é o título do novo livro do Papa, em diálogo com o jornalista argentino Hernàn Reyes Alcaide. Uma antecipação do que se pode ler num dos capítulos sobre a guerra foi já divulgada no passado domingo.
Publicado esta terça-feira em Itália, o livro revela o olhar de Francisco, na primeira pessoa, sobre um vasto elenco de preocupações, onde se incluem a luta contra os abusos na Igreja, a loucura da guerra, os graves desvios da política e da economia mundial, as “fake news” e os discursos de ódio, a falta de acesso à saúde e outros temas de actualidade, definidores das preocupações manifestadas pelo Papa ao longo dos quase dez anos de pontificado.
Entrevistado pela Renascença, o jornalista da Agência Télam sublinha alguns aspetos desta obra que escreveu como Santo Padre.
Como nasceu este livro?
O projecto surgiu depois de ter visto uma mensagem-vídeo que o Papa enviou aos movimentos populares, em 16 de outubro de 2021, em que elaborava uma série de diagnósticos sobre a situação do mundo, logo após a pandemia. Nessa intervenção, Francisco fazia uma lista de nove pedidos em nome de Deus, mais focados nos aspetos económicos e políticos. Então, tive a ideia de propor ao Santo Padre algo mais alargado e ele aceitou fazer o livro. E assim chegámos a estes dez temas, dez pedidos en nome de Deus, que dão uma perspetiva bastante integral do que é o pontificado de Francisco até agora.
Estes dez pedidos a Deus são as dez principais preocupações do pontificado de Francisco?
Não sei se são as únicas, mas quando lhe propus esta lista aceitou-a de bom grado. A ideia foi tratar de dez temas que também englobem outros. Por exemplo, quando o Papa fala da preocupação pelo crescimento dos países pobres, isto também inclui um conjunto de outras preocupações derivadas da reforma da arquitetura financeira internacional. Ou quando se fala da preocupação de travar a loucura da guerra, também aparecem outras que daí derivam, como, por exemplo, a preocupação por uma possível catástrofe nuclear ou outras muito mais pontuais, como o que se passa em alguns países onde o acesso quotidiano às armas é muito fácil.
Então, são dez grandes preocupações enunciadas de uma forma que têm a virtude de englobar um conjunto de questões e que me parece ser também uma das grandes virtudes deste pontificado, que consegue conjugar o macro com o micro e o quotidiano.
E como fizeram o livro?
Foi uma mistura entre encontros pessoais e intercâmbios por correio electrónico ou por telefone e sugestões de leitura recomendadas pelo Papa. Impressionou-me a sua preocupação, é um homem com uma visão de 360 graus da realidade mundial. E tem um enorme cuidado em citar os Papas que o precederam. Por isso, o livro revela também uma continuidade natural com os pontificados anteriores e com a Doutrina Social da Igreja.
Apesar dos graves problemas que o livro enuncia, o titulo remete para a esperança. Porquê?
Além destes dez pedidos em nome de Deus, o livro tem um epílogo que faz referência ao tema do próximo Jubileu de 2025, que vai ser: “Peregrinos de esperança”. O Papa fala de certas diferenças e matizes entre o que é optimismo e o que é a esperança. A esperança é um reivindicar cristão que mantém sempre um olhar para o futuro, que pode estar carregado do desejo de melhorar - desde o tema do meio ambiente, até à problemática das guerras.
Pelo contrário, ser optimista ou ser pessimista, diz o Papa, são estados de ânimo muito mais fugazes. Então, Deixa claro que a esperança é uma atitude de vida do cristão que, apesar dos duros diagnósticos de alguns assuntos - e ainda que pareça que não - o lado bom é que ainda estamos a tempo de mudar e de melhorar.