Em média, um peregrino que faz o caminho português até Santiago de Compostela gasta, em território nacional, cerca de 55 euros diários e 50 euros, quando atravessa a fronteira para Espanha. Os dados são avançados no “Estudo sobre os impactos económico dos caminhos de Santiago”, apresentado esta terça-feira em Vigo.
Na iniciativa “Facendo Caminho” que decorreu no Museu do Mar de Galicia, o economista, e professor da Universidade de Santiago, Melchor Fernández revelou que a estimativa aponta que os mais de 123 mil peregrinos que percorreram os caminhos portugueses no último ano, terão gastado mais de 16 milhões de euros em Portugal.
Na apresentação promovida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial da Eurorregião Galiza-Norte de Portugal ficou a saber-se que os gastos dos peregrinos são centrados na alimentação e alojamento. “6 por cento” do total que é gasto nos caminhos de Santiago “fica no norte de Portugal”, estimou o professor da Universidade de Santiago.
Nesta apresentação soube-se também que a maior parte dos peregrinos que fazem os dois caminhos portugueses certificados são estrangeiros que chegam através do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto.
A procura tem aumentado pelos caminhos portugueses, em detrimento do caminho francês. Em termos comparativos, só desde o início do ano, “cerca de 2381 peregrinos fizeram os dois caminhos portugueses, o caminho do Interior e o caminho da Costa”, num universo total de “7129 que chegaram a Santiago”. Quando comparados com os peregrinos que chegam via França registaram-se só mais mil e 100 pessoas.
Melchor Fernández fala num “potencial de crescimento dos caminhos portugueses tremendo”, sobretudo devido ao “crescimento exponencial no caminho da Costa”. “Mas temos de ter cuidado”, avisa o economista, devido aos “fluxos”, é preciso “evitar o congestionamento” e avaliar “a capacidade de carga que tem cada um dos caminhos”.
Segundo o académico, o caminho português pelo litoral da costa portuguesa e galega “é um caminho que passa por muitas áreas urbanas e tem um perfil de peregrinos mais internacional”. Muitos desses peregrinos optam também por disfrutar de outras atividades económicas, como é o caso “concertos de música” ou de “aulas de surf”, o que faz aumentar os gastos.
O “impacto dos peregrinos é maior do que o dos turistas nacionais e internacionais”, indica Melchor Fernández que sublinha que “há um efeito de arrasto”, ou seja, são peregrinos que vão incentivando o comércio local ao longo do percurso, porque estão a “mover-se no território”.
Segundo o economista, os peregrinos que fazem os caminhos ficam “contentes e realizados”, mas os que percorrem o caminho português pela Costa, “saem mais satisfeitos, em parte porque muitos dos que chegam ao caminho português é a primeira vez que estão a caminhar até Santiago”.
“Há um grupo muito importante de peregrinos internacionais que o primeiro caminho que fazem é o português, pela facilidade das ligações, em particular com o aeroporto do Porto”, diz este especialista que sublinha que, em média, os peregrinos fazem etapas de 5 a 6 dias em Portugal.
Numa altura em que os peregrinos que atravessam a fronteira por Portugal já representam cerca de 30 por cento dos que chegam a Santiago, o caminho português tem vindo a tornar-se “mais internacional”. Enquanto o caminho francês perde procura, o caminho inglês vai ganhando uma procura “mais de famílias”.
Mais mulheres e menos jovens
Na conferência em Vigo, foi apresentado o perfil do peregrino que faz os caminhos de Santiago. Numa altura em que o estudo aponta uma “perda do peso da motivação religiosa” que tinha aumentado durante a pandemia, percebe-se que há hoje menos jovens a fazerem os caminhos de Santiago.
Segundo o estudo, “há mais mulheres a fazerem o caminho”, “dominam, são a maioria” e há também “cada vez mais pessoas idosas”, indicou Melchor Fernández que explica que isso “mostra que as acessibilidades melhoraram”, bem como a segurança dos caminhos.
“Os maiores de 60 têm um peso superior”, diz o economista que aponta “o envelhecimento ativo” como um dos motivos, mas também o facto das associações religiosas terem deixado de organizar tantas peregrinações com jovens durante a pandemia.
Segundo este estudo, “o peregrino que viaja sozinho e se aloja num albergue publico desapareceu quase totalmente”, indica Melchor Fernández que indica que por vezes os “peregrinos que passavam por Vigo perdiam-se” e que é por isso necessário melhorar a sinalética.
Portugal organiza primeiro fórum sobre os caminhos de Santiago
À margem da apresentação, no Museu do Mar onde estiveram vários representantes de peregrinos portugueses foi anunciada a realização do primeiro Fórum Peregrino em Portugal.
Ana Rita Dias, presidente da Federação Portuguesa dos Caminhos de Santiago confirmou que o encontro terá lugar de 23 a 25 de março, na Covilhã e que é aberto não só a associações ligadas aos caminhos de Santiago, como a todos os que queiram fazer a peregrinação à cidade galega.