Isabel dos Santos nega tudo quanto tem sido noticiado na comunicação social sobre bens e contas bancárias associadas ao seu nome e ao da sua família. No comunicado divulgado nesta terça-feira, as frases mais lidas são “é falso”, “é completamente falsa” e “não há e nunca houve”.
Contas bancárias
Isabel dos Santos começa por afirmar que “é falsa a afirmação da existência de contas bancárias pertencentes à ‘Família dos Santos’ no banco EuroBic”. E garante: “a ‘Família dos Santos’ não tem e nunca teve contas bancárias no banco Eurobic ou em lado algum”.
É também “completamente falsa”, segundo a empresária angolana, que haja contas “pertencentes a familiares do antigo Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, que tenham recebido fundos ou dinheiro do Estado angolano para o seu uso pessoal ou qualquer outro fim”.
Aliás, ainda segundo o comunicado divulgado, “não há e nunca houve dinheiro do Estado angolano colocado em contas tituladas por entidades controladas por familiares de José Eduardo dos Santos, nem para seu benefício pessoal, nem para qualquer outro propósito”.
Tal como “não há e nunca houve dinheiro do Estado angolano colocado em contas bancárias tituladas pela Engª Isabel dos Santos ou suas empresas” ou “dinheiro do Estado angolano colocado em contas bancárias tituladas pelo Dr. Sindika Dokolo ou suas empresas”.
Imobiliário
Sindika Dokolo é o marido de Isabel dos Santos. Segundo a empresária, “é falso” que Dokolo “detenha ou seja proprietário de um edifício de 11 andares em Rio de Mouro, Sintra”. E a própria Isabel dos Santos não tem qualquer “moradia na Quinta do Lago”, como referem “algumas peças jornalísticas”.
O casal não terá, aliás, “propriedade alguma no Algarve”, mas é verdade que “ambos são investidores estrangeiros e é publicamente sabido que ambos trabalham fora de Portugal”. “Nenhum é cidadão português”.
Por trabalharem fora de Portugal, “foi tendenciosa” a informação que deu conta de que “estariam fora do país, tentando dar a falsa aparência de fuga”.
Negócios
Ainda no que toca aos negócios de Sindika Dokolo, Isabel dos Santos diz ser “completamente falsa a afirmação” de que “tem sociedades que servem de veículos utilitários ao branqueamento de capitais”.
Isabel dos Santos classifica como “completamente falsa e gravemente difamatória a afirmação que a ‘Família dos Santos’ lava grande parte da sua fortuna em Portugal”.
A empresária reserva-se, por isso, “o direito de apresentar uma queixa crime por injúria e difamação, assim como pedido de reparação cível dos graves prejuízos causados por esta afirmação que visa um ex-Chefe de Estado”.
Esclarece ainda que “as sociedades Fidequity e H33 não pertencem à ‘Família dos Santos’, pelo que é falsa essa afirmação”.
“Não existe qualquer empresa ou holding detida pela ‘Família dos Santos’. É tendenciosa esta afirmação e visa unicamente confundir as empresas da empresária Isabel dos Santos com um suposto ‘património de família’”, critica.
Isabel dos Santos e a Sonangol
“A empresária Isabel dos Santos é uma investidora privada e independente, que construiu as suas próprias empresas de raiz, age por sua conta e representa exclusivamente o seu próprio interesse nas sociedades que detém”, afirma no comunicado.
Mas foi “após um convite efetuado pelo antigo executivo angolano” que chegou à presidência do conselho de administração da Sonangol. A missão era “liderar o processo de reestruturação da empresa estatal, que se encontrava praticamente em falência”.
O convite surgiu quando Isabel dos Santos “era consultora da Sonangol e ocupava o cargo de administradora em mais 12 empresas privadas, algumas delas líderes nos seus sectores em Angola e em Portugal”.
Garante a empresária que, “após a sua nomeação, renunciou a vários cargos de administração”.
“As condições contratuais propostas aos membros do conselho de administração presidido” por Isabel dos Santos “foram acordadas com o antigo executivo de Angola”.
“Estes administradores foram recrutados no sector privado, conforme as orientações recebidas”, com vista a “ter uma equipa de profissionais com elevada experiência e altamente qualificada”.
“Estes profissionais, que na altura se encontravam a colaborar em empresas internacionais como a Exxon, a Chevron e a Total, aceitaram o convite da Sonangol com condições salariais semelhantes”, esclarece ainda.
“O Estado angolano foi parte de todo este processo de seleção, condições, requisitos e recrutamento, tendo validado todos os membros do conselho de administração da Sonangol e procedeu à sua nomeação. Foi cumprido o previsto na Lei de Bases do setor empresarial público de Angola e outras disposições sobre esta matéria”, conclui.
Justiça
“É falsa a afirmação que a Polícia Judiciária tenha procedido ao confisco de 300 milhões de euros a Isabel dos Santos”, assegura a empresária.
A filha do ex-Presidente angolano condena ainda as notícias sobre alegada “existência de crimes precedentes de corrupção e peculato em Angola”.
“É completamente falsa. Não há um tribunal em Angola que tenha estabelecido a existência de crime algum”.
Isabel dos Santos é acusada de gestão danosa e evasão fiscal, num processo que envolve a alegada transferência de 115 milhões de dólares. Foi constituída arguida na sequência das revelações do “Luanda Leaks”, uma mega investigação conduzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e os seus parceiros.
Mais de 715 mil ficheiros detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
A investigação jornalística revela o esquema montado para desviar mais de 100 milhões de euros da Sonangol para o Dubai.
De acordo com a mesma investigação, que em Portugal foi liderada pelo Expresso, a filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, utilizou recursos públicos em benefício próprio, numa operação que terá contado com o apoio de quatro portugueses, envolvidos neste caso.
Feitas as contas, a mulher mais rica de África soma participações em 169 holdings, que integram 423 empresas de 41 países. Portugal é o país onde detém mais participações – da energia, às telecomunicações, passando pela banca.