"Naturalmente que lamentamos. Nós tínhamos precisamente apoiado a resolução que está ser vetada", disse João Gomes Cravinho, à agência Lusa à margem da cerimónia de entrega dos prémios 'Manuel António da Mota - Uma Vida em Angola', que decorreu em Luanda.
Cravinho sublinhou que esta é a posição que Portugal tem assumido e insistiu que é urgente haver um cessar-fogo humanitário.
"É preciso que haja acesso da ajuda humanitária à população de Gaza, consideramos também fundamental que haja libertação sem condições dos reféns em Gaza e acreditamos que o cessar-fogo iria nesse sentido", sublinhou.
O chefe da diplomacia portuguesa afirmou que é preciso continuar a conversar, notando que tem havido evolução nas posições das Nações Unidas e dos próprios Estados Unidos, Israel e Gaza.
"Acreditamos que, continuando o diálogo, encontraremos soluções que serão satisfatórias para todos. É fundamental que haja um cessar-fogo - e repito aqui este apelo - enquanto não for permanente, deve ser temporário, que permita acesso humanitário às populações, que permita começar a falar de um futuro mais estável, nomeadamente através da solução de dois Estados", sublinhou o ministro.
Questionado pela Lusa sobre o que poderia fazer os EUA mudarem a sua posição face ao conflito, Gomes Cravinho considerou que isso já está a acontecer, embora nem sempre de forma visível.
"Mas quando se fala com os responsáveis políticos americanos, percebemos que a posição deles não é tão distante da nossa, a interpretação que eles fazem do caminho para lá chegar é que pode ser diferente", notou.
Os Estados Unidos vetaram esta sexta-feira um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, apesar do apelo inédito lançado pelo secretário-geral da organização, António Guterres.
A resolução foi apresentada pelos Emirados Árabes Unidos e teve o apoio de todos os países árabes e islâmicos, além da Rússia e da China.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, invocou na quarta-feira, pela primeira vez desde que se tornou secretário-geral, o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, pedindo ao Conselho de Segurança, o único órgão da ONU cujas decisões têm caráter vinculativo, que "evitasse uma catástrofe humanitária" no enclave e aprovasse um cessar-fogo.
Numa reunião do Conselho de Segurança convocada na sequência do apelo inédito feito por António Guterres, o líder das Nações Unidas exortou o órgão da ONU, cujas decisões são vinculativas, a não poupar esforços para pressionar "um cessar-fogo humanitário imediato, pela proteção dos civis e pela entrega urgente de ajuda vital".
"Existe claramente, na minha opinião, um sério risco de agravamento das ameaças existentes à manutenção da paz e da segurança internacionais", reforçou, denunciando ainda que "não existe uma proteção eficaz dos civis".
"Receio que as consequências possam ser devastadoras para a segurança de toda a região", frisou Guterres.