O Governo da Guiné-Bissau admitiu, este sábado, o envolvimento de rebeldes de Casamança e de “certas personalidades” no ataque perpetrado terça-feira contra o Palácio do Governo, em Bissau, por um “grupo de militares e paramilitares”.
O porta-voz do Governo e ministro do Turismo, Fernando Vaz, disse que o “bárbaro atentado” foi feito por um “grupo de militares e paramilitares” e que visava “a decapitação do Estado guineense, com recurso a pessoas envolvidas no narcotráfico e contratação de mercenários, rebeldes de Casamança”.
Fernando Vaz deu uma conferência de imprensa antecedida da leitura de comunicado aos jornalistas no Ministério do Turismo, situado no Palácio do Governo, em Bissau, onde a segurança está a ser garantida pelos comandos.
Segundo o ministro do Turismo, as “provas recolhidas pela Comissão de Inquérito” e que vão ser entregues ao Ministério “demonstrarão que são bastantes e irrefutáveis”.
“Os indícios de participação de pessoas com ligações ao narcotráfico (…) são baseados em fatos reais, exaustivamente documentados. Existem imagens e outras provas materiais que a seu tempo, sem perturbação do inquérito, serão trazidas a público para a avaliação de todos”, afirmou.
“As ligações dos autores materiais do atentado a certas personalidades também estão objetivamente sustentadas por provas contundentes e irrefutáveis. O planeamento da operação terrorista, o "modus operandi" e os objetivos preconizados, dos quais o grupo terrorista atacante estava incumbido, estão a ser relatados pelos próprios intervenientes, que já se encontram sob custódia das autoridades e têm suporte em provas recolhidas”, salientou.
O ministro sublinhou que não existe “qualquer intenção de caça às bruxas ou de penalização de pessoas inocentes”.
“Existem factos, provas e depoimentos que coincidem com as provas materiais recolhidas pela investigação”, disse.
Questionado pelos jornalistas sobre o número de detidos, o ministro afirmou que o “poder judicial é que trata do assunto”.
“Há uma comissão de inquérito criada pelo Governo que fará o seu trabalho e no fim remeterá o relatório ao Ministério Público, que com certeza vos poderá responder futuramente a essa questão”, disse.
Sobre um alegado envolvimento de políticos, o ministro afirmou que o “comunicado é claro” e que a “comissão de inquérito aponta nesse sentido”.
Questionado como conseguiram ser identificadas os rebeldes de Casamança, Fernando Vaz explicou que foram identificados por testemunhas.
O ministro apenas confirmou a detenção de alguns elementos e que a seu tempo o Ministério Público revelaria mais informação.
Homens armados atacaram na terça-feira o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
O ataque causou pelo menos oito mortos, segundo o último balanço do Governo, que reviu em baixa o número de vítimas mortais.
O Presidente considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado que poderá também estar ligada a “gente relacionada com o tráfico de droga”.
O Estado-Maior General das Forças Armadas guineense iniciou entretanto uma operação para recolha de mais indícios sobre o ataque, que foi condenado pela comunidade internacional.
Na sequência dos acontecimentos, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou o envio de uma força de apoio à estabilização do país.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país.