Sem acesso às cadeias, os capelães penitenciários usam a oração “internet, intemporal e sem fios que não precisa de meios físicos ou tecnológicos” para manter ligação aos reclusos.
O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, padre João Gonçalves, propõe aos capelães para se disponibilizarem a estar presentes em meio prisional “para algo sentido como urgente” e em que a “presença seja tida como evangélica e humanamente importante e possível”.
Numa carta enviada aos capelães penitenciários, a que a Renascença teve acesso, o padre João Gonçalves propõe a todos que mantenham contacto com a direcção do estabelecimento prisional e sugere também que os capelães manifestem disponibilidade para “algo sentido como urgente” e em que a sua presença “seja tida como evangélica e humanamente importante e possível”.
Na carta, o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária lembra a todos os que estão ligados “à Assistência Espiritual e Religiosa nas Prisões em Portugal”, que “Deus nos pede um esforço enorme de ligação interior e permanente de oração, e de real amizade cristã, com as Pessoas em privação de Liberdade, suas Famílias, Direcção dos Estabelecimentos, Guardas Prisionais, todo o Pessoal envolvido nestes Serviços”.
O responsável propõe que “o Assistente Espiritual e Religioso, ou alguém em quem ele delegue, mantenha ligações por processo telefónico, informático ou outro, com a Direcção do EP” , em que se manifeste “comunhão no sofrimento de todas as Pessoas do Estabelecimento”, e em que se ofereça “disponibilidade para algo sentido como urgente”, e em que a “presença seja tida como evangélica e humanamente importante e possível”.
Ouvido pela Renascença, o padre João Gonçalves assegurou que os capelães “não vão forçar nenhuma situação”, mas lembra que “se houver um caso considerado grave, a missão dos padres é estar disponíveis”.
O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária diz que “uma coisa que estão a fazer é, de vez em quando, ligar para as cadeias; não para falar com os reclusos, mas para falar com a direcção, para saber se há alguma coisa que se possa fazer”. O objectivo é ajudar a que se atenue o isolamento dos “irmãos reclusos que vivem agora muito mais essa dificuldade” pois, “o problema é muito sério; não há nenhum contacto directo das pessoas presas com os seus familiares” o que dificulta um estado sereno de psicologia e de vivência do próprio dia a dia”.
Sem fios, oração faz a ligação às cadeias
Para reduzir a sensação de isolamento, os capelães tentam junto da direcção das cadeias perceber quais as necessidades dos reclusos.
Por exemplo, na região do Grande Porto, às instituições religiosas estão a ser pedidas, televisões, rádios e leitores de cd, como revelou à Renascença o padre. David Matamá, responsável pela Unidade Pastoral dos Estabelecimentos Prisionais de Custóias, Santa Cruz do Bispo e Policia Judiciária.
De acordo com o padre David, “o pedido chegou da cadeia feminina de Santa Cruz que lançou o repto a todos os grupos de voluntários para angariação de tv’s, rádios e leitores de cd’s” e foi abraçado pela pastoral penitenciária para “de algum modo suavizar o tempo de reclusão e a ausência de actividades”.
O responsável revela que “esta proibição do exercício pastoral nas cadeias” que é acolhida por respeito e saúde publica está a “limitar decisivamente a acção pastoral” e diminui quase por completo “toda a criatividade que pudesse compensar a nossa ausência”. Assim, porque a “internet que seria um óptimo meio para continuar a nossa comunhão, ainda não chegou às cadeias”, o sacredote sugere a oração “uma outra internet - intemporal e sem fios - e que não precisa de meios físicos ou tecnológicos que compliquem a sua execução”. E desta forma, garante o padre David “continuamos ligados a todos e por todos, unidos a Cristo preso com os presos”.
Em Alcoentre, o padre Ricardo Jacinto faz por “encurtar a distancia dos reclusos de Vale dos Judeus pela oração de intercepção” ao mesmo tempo que tenta tornar-se presente diante do estabelecimento prisional por carta, ou por email, ou por contacto com a própria direcção”. O objectivo é fazer chegar aos reclusos a ideia de que “apesar da ausência física, dada a impossibilidade por motivos sanitários, não há esquecimento, não há um alheamento daquilo que se passa lá dentro e das suas necessidades”.
Por outro lado, Ricardo Jacinto diz que o contacto com os reclusos continua a ser possível através de telefone, mas apenas nos casos em que o detido decide telefonar ao seu capelão. E de Vale dos Judeus, o padre Ricardo já recebeu alguns telefonemas neste período de crise provocada pela pandemia. Contudo, o capelão do Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus admite que “face ao número reduzido de chamadas” a que o recluso tem direito, o primeiro contacto “preferencial é a família” pelo que para “mim só há-de telefonar quem não tem contacto familiar”.
Por sua vez, o sacerdote Fernando Calado Rodrigues, assistente espiritual do Serviço Diocesano de Pastoral Penitenciária de Bbragança-Miranda, disponibilizou-se “para o caso de algum recluso querer mesmo, precisar muito de assistência espiritual” seguindo “todas as normas de segurança e todos os cuidados e todas as protecções” poder deslocar-se ao estabelecimento prisional “para dar esse apoio e acompanhamento espiritual”.
O padre Fernando Calado Rodrigues revela que tentou outras formas de encontro espiritual com os reclusos que no entanto, se revelaram impossíveis, pois “não há condições para colocar os reclusos a uma distância segura numa mesma sala” e se poder “transmitir para lá a celebração da Eucaristia e outras orações”. Poderia também “permitir algum contacto com eles através desses meios” mas “infelizmente não é de todo possível”.