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O patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, considera que a tragédia dos fogos, que causou 41 mortos, segundo o balanço mais recente, era evitável.
Questionado pela Renascença à margem de uma conferência na Universidade Católica, o cardeal relembrou a existência de relatórios que já apontavam falhas na forma como se lidou com os incêndios de Pedrógão Grande, em Junho, e diz que “certamente era possível” evitar uma repetição daquele acontecimento.
Para D. Manuel Clemente, esta tragédia era “previsível porque os relatórios estão aí. Os peritos já se pronunciaram, as autoridades do Estado, a começar pelo Presidente da República, também”.
“Se se tivesse avançado mais na prevenção, se se tivesse mantido mais presente os sistemas de protecção e alerta, se se tivesse avançado mais atempadamente em termos de Protecção Civil, se as matas, ou pelo menos o que circunda os casais e as habitações, tivesse sido mais cuidado, enfim, isto não aconteceria, mas já estamos a chorar sobre leite derramado. É preciso é evitar que ele se derrame”, considera.
O patriarca de Lisboa recorda que as instituições da Igreja Católica estão já no terreno desde Pedrógão Grande para auxiliar as vítimas, um trabalho que vai continuar. “No que diz respeito a recursos materiais, as Cáritas diocesanas, sobretudo, desde o primeiro momento, desde Pedrógão, têm redobrado a sua acção. Também a Cáritas Portuguesa e outras organizações da Igreja, as misericórdias também e outras instituições."
“Mas eu quero ressaltar muito especialmente o apoio que as paróquias – porque são a realidade local da Igreja e das dioceses –, os seus párocos e os seus cristãos mais comprometidos e atentos, têm dado às corporações, porque são pessoas entre pessoas, familiares, tantos deles, de vítimas, ou de pessoas que foram prejudicadas, e isto mantém-se", acrescenta.
Para o cardeal, que é também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o importante é apostar na prevenção, vertente em que a Igreja tem uma palavra a dizer. “Sabemos que a quadrícula da Igreja está muito próxima das populações. Há quatro mil e tal paróquias no país e muitas delas em zonas que foram afectadas pelos incêndios. Estamos lá, somos párocos, bispos, católicos em geral e outras pessoas de boa vontade. E vamos continuar a insistir para que se previna, realmente, no futuro”, afirma, recordando que já em Maio deste ano, antes da tragédia de Pedrógão, os bispos publicaram uma nota pedindo a mobilização da sociedade para combater o flagelo dos incêndios.
“Não é quando as coisas acontecem que se vai atamancar à pressa, é com uma prevenção cuidada, com tudo aquilo que hoje não só a ciência como o bom senso nos faculta”, conclui D. Manuel Clemente.