O secretário-geral do PCP apontou hoje ao Governo um conjunto de problemas estruturais do país, como a precariedade ou a inflação, com o primeiro-ministro a pedir para não se ignorar o contexto de guerra na Ucrânia.
Jerónimo de Sousa intervinha no debate sobre o estado da nação, que decorre hoje na Assembleia da República, chamando à atenção do Governo para problemas como o "aumento do custo de vida", ou a "acelerada degradação da vida dos trabalhadores", acusando o executivo de tomar opções que convergem com "os interesses dos grupos económicos".
"Diz a bancada do PS, o senhor deputado Brilhante Dias [líder parlamentar socialista]: reduzimos o desemprego. Admitamos, só que não completou a frase, devia ter acabado dizendo: reduzimos o desemprego, aumentámos a precariedade, que é hoje uma chaga social", atirou.
O líder comunista insistiu na importância do investimento nos serviços públicos, em "medidas de fixação e controlo dos preços", no aumento dos salários e das pensões, no desenvolvimento da indústria nacional, passando pelo apoio à agricultura familiar, "decisiva para a defesa do mundo rural, do ordenamento do território e da defesa da floresta".
Na resposta, o primeiro-ministro, António Costa, atirou: "Senhor deputado, desculpe, mas não resisto a um aparte: há muitos problemas estruturais, mas um dos problemas mais determinantes para a situação do país hoje é mesmo o resultado da inflação, que resulta da guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia".
"Não podemos ignorar os problemas estruturais, mas não podemos ignorar esta causa concreta desta agressão de violação do direito internacional que a Rússia perpetuou contra um estado independente e soberano como é a Ucrânia", vincou.
Quanto à precariedade, António Costa concordou com o secretário-geral do PCP, dizendo que esta é "uma chaga" do mercado de trabalho, mas lembrou que está em discussão no parlamento a agenda do trabalho digno do executivo, em que um dos objetivos é "acelerar o combate à precariedade".
O primeiro-ministro acrescentou que "nos últimos anos, não só os contratos a prazo diminuíram, como a percentagem de contratos sem termo no conjunto das pessoas empregadas aumentou significativamente e está neste momento nos 84,9%".
"E temos a esperança que seja possível em sede de concertação social concluir o acordo para a produtividade e rendimentos para que haja uma valorização geral dos salários", acrescentou.
Já sobre o tema das florestas, António Costa defendeu que "não há reforma possível sem repor valor na floresta".
"E é por isso que é indispensável que possamos ter o cadastro concluído, que haja uma gestão com escala económica da floresta e que haja novos usos para floresta. Não é só o preço da madeira, é poder investir nos biocombustíveis, nas fibras biológicas para o têxtil ou para o calçado e novos usos, designadamente para os produtos resinosos", referiu.
"Quando repusermos valor na floresta voltaremos a ter quem cuide da floresta", insistiu o primeiro-ministro. .
Momentos antes da resposta do primeiro-ministro, um homem que assistia ao debate nas galerias tentou pedir a palavra a António Costa, que continuou a sua intervenção, tendo sido retirado pelos agentes da GNR.