As autoridades judiciais da Nicarágua acusaram formalmente o bispo de Matagalpa do crime de “conspiração” contra o Estado e de “perturbação da ordem pública”.
“O que dizem é que o bispo divulgou notícias falsas através das redes sociais e também na comunicação social, contra o Estado e a sociedade nicaraguense”, mas “na verdade, o que ele tem feito é denunciar a situação que se vive no país”, afirma à Renascença a responsável pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em Portugal, referindo que a perseguição aos cristãos não dá sinais de diminuir, porque a Igreja tem tornando públicos os abusos do regime de Daniel Ortega.
O caso do bispo de Matagalpa tem sido dos mais noticiados. D. Rolando Álvarez está em prisão domiciliária desde 19 de agosto e vai começar a ser julgado em janeiro. “Tem a primeira audiência dia 10. Foi nomeado um advogado de defesa pelo Estado, vamos ver”, refere Catarina Martins Bettencourt.
A data do julgamento foi divulgada a 13 de dezembro pelas autoridades judiciais, que confirmaram também que o padre Uriel António Vallejos foi considerado “foragido da justiça” e que “foi já emitido um mandado de captura internacional através da Interpol”.
“A voz crítica é, de facto, a voz da Igreja, daí esta perseguição. Já foi expulso o Núncio Apostólico, representante do Papa na Nicarágua, foi obrigado a sair do país, tal como as missionárias da caridade e vários bispos e missionários”, indica Catarina Martins Bettencourt, que fala numa realidade “cada vez mais difícil” para a população em geral.
“O que sabemos é que no contexto das repressões por parte do Estado, pelo menos 355 pessoas morreram, mais de 2.000 ficaram feridas, e no meio dos protestos 1.614 foram presas. São os dados que temos, concretos”, indica aquela responsável citando um relatório recentemente divulgado na Nicarágua, segundo o qual “há estudantes universitários que foram expulsos e mais de 150 mil pessoas que foram forçadas a fugir e que estão este momento na Costa Rica, como refugiadas”, segundo indica o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)”.
A Igreja, em particular, está a viver “uma situação muito dramática”. Nos últimos meses “foi encerrado o canal de televisão da Conferência Episcopal da Nicarágua e encerradas oito rádios católicas”, e há interferências constantes no culto religioso. “Soubemos que não foi permitido fazer na rua a procissão de Nossa Senhora de Fátima, as pessoas foram todas obrigadas pela polícia a entrar e a fazer a procissão dentro da Igreja. Tem havido muta pressão”, sublinha.
A Nicarágua é um dos países citados no relatório da Fundação AIS sobre a perseguição aos cristãos, divulgado em novembro, “exatamente por causa desta repressão. Tem havido igrejas incendiadas, vários atos de vandalismo, quando há missa vêm pessoas para a rua, à volta, para perturbar o decorrer normal da eucaristia. Tudo isso vem denunciado neste relatório. É uma Igreja que está a passar por dificuldades, e nós temos obrigação de denunciar e dar a conhecer esta situação”, considera Catarina Martins Bettencourt, que espera que a comunidade internacional continue atenta, como tem feito em relação ao bispo de Matagalpa.
“O Papa Francisco já denunciou a situação, as conferências episcopais de Cuba, Itália e Brasil também já falaram, o próprio secretário geral da ONU e o parlamento europeu, todas estas entidades já denunciaram este caso e saíram em defesa do bispo. Precisamos de continuar a estar atentos para ver se o seu julgamento será correto, honesto, e não manipulado pelo Estado”.