Descobertas do Nobel da Medicina permitem ligar os europeus e asiáticos aos neanderthais
03-10-2022 - 14:38
 • Carla Fino , João Carlos Malta

Luísa Pereira, investigadora e especialista em genética populacional humana do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, analisa a importânca do ttrabalho de Svante Pääbo.

As descobertas do prémio Nobel da Medicina e da Fisiologia de 2022, Svante Pääbo, abrem à ciência “horizontes sobre o nosso passado que não conseguíamos abordar”. E permitem ainda ligar os habitantes atuais da Europa e da Ásia aos neanderthais.

A tese é avançada à Renascença por Luísa Pereira, investigadora e especialista em genética populacional humana do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde

“Agora temos o genoma dos neanderthais, que é um hominídeo muito mais próximo da nossa evolução. Ao permitir que tenhamos o genoma de uma espécie muito mais próxima de nós, temos uma capacidade muito maior de conhecer os eventos evolutivos mais finos, os realmente importantes para a nossa evolução”, explica.

As invstigações de Pääbo dão a conhecer o genoma dos neanderthais, quando antes “comparávamos o nosso genoma com o genoma de chimpanzés que estão separados de nós por seis mil anos de evolução”.

A equipa de Svante está a tentar caracterizar as variantes que existem num género importante para o sistema nervoso. “Estão já a provar o diferente impacto que variantes de neanderthais comparados com variantes humanas terão na evolução do nosso sistema nervoso”, identifica a investigadora em genética.

A importância dos estudos de Svante Pääbo é a de que antes dele o que se sabia sobre a evolução genética dos nossos antepassados era conhecido “através de métodos estatísticos que inferíamos o passado”.

Depois de Pääbo há agora a “capacidade mais poderosa para estudar o nosso passado”.

Uma das interrogações que há muito se discute na academia é se na evolução humana os neenderthais e o homem moderno se teriam entrecruzado, e se isso aconteceu se teriam descendentes férteis.

“Com a sequenciação pode-se perceber que os dois hominídeos se entrecruzaram, e hoje todos os europeus e asiáticos temos 2% de variantes de neanderthais”

Por isso, foi também possível concluir que os habitantes atuais da Europa e da Ásia devem aos neanderthais a boa adaptação a estes continentes, porque estes nossos antepassados viviam sobretudo nestes continentes em condições bem adversas, nomeadamente temperaturas muito baixas.

O Prémio Nobel da Medicina e da Fisiologia foi atribuído para o sueco a Svante Pääbo, pelas descobertas no genoma de hominídeos extintos e evolução humana.

O laureado nasceu em Estocolomo em 1955, e tem 67 anos. Fez os seus estudos na Alemanha, entre as cidades de Munique e de Leipizig.

O paleogeneticista descobriu que uma transferência genética ocorreu entre estes hominídeos agora extintos e Homo Sapiens. Este fluxo antigo de genes para os humanos de hoje tem um impacto fisiológico, por exemplo, afetando a forma como o nosso sistema imunológico reage a infeções.


O anúncio do prémio Nobel da Medicina marca esta segunda-feira o arranque da temporada Nobel de 2022 que culmina a 7 de outubro com a atribuição Nobel da Paz, categoria este ano muito aguardada, em tempo de guerra na Europa.

Pelo meio, serão atribuídos os galardões de Física (4 outubro), Química (5 outubro) e Literatura (6 setembro) e, a 10 de outubro, será ainda conhecido o vencedor do prémio Sveriges Riksbank (o banco central sueco) em Ciências Económicas, em memória de Alfred Nobel, o patrono dos prémios, segundo o respetivo "site" da internet.

Todas as categorias serão anunciadas em Estocolmo, exceto o Nobel da Paz que, como habitualmente, será atribuído pelo Comité Nobel Norueguês e terá como cenário o Instituto Nobel Norueguês, em Oslo, na próxima sexta-feira, 7 de outubro.

De acordo com a organização dos galardões, este ano, são 343 os candidatos ao prémio Nobel da Paz, 251 dos quais são pessoas e 92 organizações – um número superior aos 329 candidatos do ano passado e o segundo mais elevado de sempre, pertencendo o recorde aos 376 candidatos nomeados em 2016.

Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte da sua fortuna a pessoas que trabalhem por "um mundo melhor". O prestígio internacional dos prémios Nobel deve-se, em grande parte, às quantias atribuídas, que atualmente chegam aos dez milhões de coroas suecas (mais de 953.000 euros).