A Páscoa e o Natal são as principais festas do ano para os cristãos, mas em vários países são épocas vividas com medo. Ao longo dos últimos anos têm-se verificado ataques a igrejas nestas datas em países como o Iraque, Egito, Indonésia, Nigéria e Paquistão.
No Domingo de Páscoa de 2019 foi a vez do Sri Lanka. Um ataque de magnitude inédita atingiu várias igrejas e alguns hotéis, matando perto de 260 pessoas, na esmagadora maioria membros da minoria cristã daquele país.
Devido ao ataque coordenado, todas as igrejas do país estiveram fechadas durante várias semanas e, quando reabriram, foi preciso ainda mais tempo para os fiéis recuperarem a confiança para poder viver a sua fé com alegria e tranquilidade.
A perseguição aos cristãos no Sri Lanka era marcada, até então, por pressão social da maioria budista, um ou outro episódio de discriminação efetiva e casos de violência pontuais. Mas com estes atentados o país entrou para a companhia de outros estados da Ásia, como o Paquistão e as Filipinas, onde um atentado em janeiro de 2019 matou 20 pessoas e feriu mais de 100 numa catedral católica na ilha de Sulu.
Segundo a fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a Ásia tornou-se em 2019, pela primeira vez nos últimos anos, o lugar de maior preocupação em termos de perseguição aos cristãos do mundo. Em termos de dificuldade em viver-se o Cristianismo, o destaque vai para Estados como a Coreia do Norte, onde qualquer manifestação de fé é violentamente reprimida, e a China, onde a pressão política sobre as religiões se agravou ao longo dos últimos anos. A Birmânia, ou Myanmar, também entra na lista bem como a Índia e o Vietname.
Esta região destrona assim o Médio Oriente, onde o clima para os cristãos melhorou bastante, sobretudo na Síria e o no Iraque, com a derrota territorial do autoproclamado Estado Islâmico no nordeste e a consolidação do poder do regime no resto do território. Ainda assim, houve vários casos de atentados e assassinatos de cristãos na Síria, que se agravaram com a ocupação de parte do nordeste, onde existem grandes comunidades de cristãos, pela Turquia, que contou com o apoio territorial de grupos de rebeldes constituídos por extremistas islâmicos.
A diminuição dos ataques a cristãos no Médio Oriente não chega, contudo, para convencer os que ainda permanecem na região a permanecer e continua a existir o risco sério de estas comunidades praticamente se extinguirem nos próximos anos.
No que diz respeito a perseguição religiosa a melhor notícia do ano terá sido a libertação, ao final de quase uma década, de Asia Bibi, uma mulher paquistanesa que tinha sido condenada à morte por alegadamente ofender Maomé. O condenação foi finalmente descartada pelo Supremo Tribunal e depois de meses escondida, para evitar ser morta por fundamentalistas, conseguiu obter asilo no Canadá. Contudo, a saga de Asia Bibi chamou atenção de novo para a realidade das leis contra a blasfémia que atinge de forma desproporcional as minorias religiosas, incluindo a cristã. Asia Bibi pode estar em liberdade, mas há dezenas de outros cristãos e não só que continuam presos por causa desta lei. Apesar de nunca ninguém ter sido executado ao abrigo da lei da blasfémia no Paquistão, são frequentes os assassinatos extrajudiciais.
Religião e tribalismo na Nigéria
África é outra parte do globo em que a perseguição aos cristãos continua a revelar níveis muito preocupantes. Apesar de existirem problemas em vários países, incluindo o Burkina Faso, o Quénia e agora até Moçambique, o país que mais dificuldades apresenta é a Nigéria.
Para além da perseguição movida pelo grupo terrorista islâmico Boko Haram, no norte fortemente islâmico do país, há também um conflito entre tribos tradicionalmente dedicados ao pastoreio e outras mais ligadas à agricultura, que ao longo do ano de 2019 assumiu contornos mais graves. Neste conflito a religião surge como agravante à tensão étnica, uma vez que os agricultores tendem a ser cristãos e os pastores muçulmanos. Milhares de cristãos foram mortos nesta onda de violência, com os bispos a acusar o Governo de cumplicidade com a comunidade muçulmana.
Também da Nigéria têm surgido casos de raptos de padres para pedido de resgates, com alguns a serem encontrados posteriormente assassinados.
Segundo a organização World Watch, que documenta casos de perseguição contra cristãos no mundo, 245 milhões de cristãos vivem nos 50 países onde a perseguição anticristã é mais grave. Não existem ainda números para 2019, mas segundo a mesma organização entre novembro de 2017 e outubro de 2018 houve confirmação de 4.136 cristãos mortos pela sua fé e outros 2.625 foram detidos ou presos, muitos sem julgamento, no mesmo período.