O Governo anunciou, em 2021, a instalação de um “mega datacenter” em Sines como o “maior investimento direto estrangeiro das últimas décadas”. Esta terça-feira, esse negócio, em conjunto com o do hidrogénio verde, levaram à detenção do chefe de gabinete do primeiro-ministro, à abertura de um inquérito a António Costa e à constituição de João Galamba como arguido.
O projeto, chamado Sines 4.0, foi anunciado pelo anterior governo de António Costa com pompa e circunstância, em abril de 2021. Na altura, o primeiro-ministro afirmou que o investimento poderia ascender a 3,5 mil milhões de euros, assim como criar 1.200 empregos qualificados até 2025.
António Costa foi então a Sines declarar que o concelho poderia ser “um campeão da produção de hidrogénio verde em toda a Europa”. Eurico Brilhante Dias, então secretário de Estado da Internacionalização, destacou o projeto como “o maior investimento estrangeiro captado pelo país desde a Autoeuropa”.
Este “Hyperscale Data Centre” é um investimento da Start Campus - uma detida pelos norte-americanos da Davidson Kempner Capital Management LP (Davidson Kempner) e pelos britânicos da Pioneer Point Partners.
O objetivo anunciado do projeto, declarado de interesse nacional, era combinar “as necessidades da nova era da transição digital com a posição geográfica única de Portugal e de Sines, contribuindo significativamente para a transição energética de Portugal”.
A construção do primeiro de cinco edifícios começou em 2022. A conclusão estava marcada para 2023 – o último comunicado da empresa dá conta da chegada dos primeiros clientes do projeto a 2 de outubro, e ainda diz que o primeiro edifício, “quando estiver concluído, terá uma capacidade total de 15 MW, os primeiros de um total de 495 MW”.
A produção de hidrogénio verde era parte integrante do projeto. “É preciso ter estas condições de o poder fazer com base numa energia renovável de baixo custo, como a que permite instalar aqui este data center e fazer de Sines um dos grandes centros de produção de hidrogénio verde de toda a Europa”, disse então António Costa.
A exportação de hidrogénio para a Europa é fulcral na estratégia energética do atual Governo. Em 2022, Portugal, Espanha e França chegaram a acordo para a construção de um corredor de hidrogénio verde, designado H2med. O início da construção foi então anunciado para 2025.
Os projetos de Sines fazem parte da investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) que resultou, esta terça-feira, na detenção do chefe de gabinete do primeiro-ministro, na constituição de João Galamba como arguido e na confirmação de uma investigação a António Costa, primeiro-ministro.
O chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus e um consultou foram detidos esta terça-feira. João Galamba, atual ministro das Infraestruturas, e Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, foram constituídos arguidos num inquérito que envolve o negócio do hidrogénio verde, assim como o do lítio.
António Costa já se reuniu duas vezes com Marcelo Rebelo de Sousa esta terça-feira, e vai fazer uma declaração às 14 horas.