“Missão Espiritana – Memória e Promessa” é o tema do colóquio que vai decorrer sábado, dia 14 de Outubro, no seminário da Torre d’Aguilha, em Cascais. Será um dos pontos altos das comemorações dos 150 anos de presença dos Missionários do Espírito Santo em Portugal. A Congregação tem hoje 3.500 elementos em todo o mundo, 115 no nosso país.
Em entrevista à Renascença, a propósito desta iniciativa, o Provincial dos Espiritanos fala dos desafios e dificuldades que se colocam hoje à Igreja e aos missionários. Para o padre Tony Neves as ordenações deste ano especial são um “sinal de Deus” para continuarem a investir numa “pastoral vocacional que toque no coração dos jovens”, e para que sintam que a missão que fazem “tem toda a actualidade”. Mas ressalva que se pode ser missionário “de muitas formas”, como têm demostrado os inúmeros leigos envolvidos nas missões dos Jovens sem Fronteiras.
Este colóquio é um dos pontos altos das comemorações dos 150 anos em Portugal?
É um dos pontos altos. Quisemos que nesta onda comemorativa não houvesse nenhuma dimensão que ficasse de fora. Tivemos grandes momentos de missão, que incluíram, por exemplo, a partida dos Jovens sem Fronteiras para Cabo Verde neste verão, tivemos a ordenação de dois diáconos e temos duas ordenações de padres, mas queríamos também ter algo que levasse à reflexão sobre a missão e este colóquio tenta olhar um pouco para o passado mas sobretudo queremos reflectir e partilhar a missão que estamos a fazer agora e lançar alguns caminhos para o futuro.
Os participantes são todos espiritanos, ou também há pessoas de fora?
Há bastantes pessoas de fora, a começar pela reitora emérita da Universidade Católica, a professora Maria Glória Garcia; o professor Alfredo Teixeira, também da Universidade Católica; a Laurinda Alves, jornalista e escritora que todos conhecemos; o professor Borges de Pinho. E vamos buscar experiências de vida religiosa assim mais nascentes, como é o caso da Aliança de Santa Maria, com a irmã Marta Mendes; temos o padre António Rego e o padre Adelino Ascenso, que é Superior Geral dos Missionários da Boa Nova, um homem que viveu a sua missão até agora no Japão. O padre Ailton Lopes, que é verbita, e é um homem que vem da América Latina; convidámos o Provincial de Angola, o padre Belmiro Tchissengueti, que vem falar-nos da missão em Angola e em África. Queremos que, de facto, seja um grande momento de partilha sobre esta missão.
Hoje há novos desafios para quem é missionário?
Sim. O mundo está muito alterado, e não o digo em sentido negativo. É um dado. Estamos numa sociedade em mudança e se não acompanharmos o ritmo desta mudança – não para irmos na enxurrada, mas para nos sabermos situar – não vamos longe.
Um dos painéis do colóquio é "A vida religiosa ainda seduz?". A vossa experiência o que é que diz?
Mostra que sim, e Deus vai-nos dando uns sinais que não deixam de ser sinais interessantes. No Ano Jubilar temos dois diáconos e dois padres. Já há bastante tempo que isso não acontecia, e nos próximos tempos pode não acontecer.
Curiosamente aconteceu o mesmo em Angola, o ano passado. Eu fui lá à celebração dos 150 anos e estavam muito contentes porque tinham três novos padres que vinham de missões onde eles estavam há mais de um século e que nunca tinham dado um padre à Congregação. Mas deram agora, 150 anos depois.
Em Portugal temos dois novos padres, o António Mosso, que é de Agualva-Cacém, e o João Paulo, que vai ser ordenado no próximo domingo, em Cascais. Nasceram e cresceram em Portugal, mas o padre António Mosso é de origem cabo verdiana, e o João Paulo Machado é de origem indiana. Não deixa de ser curioso que os dois padres que Deus nos dá no ano jubilar sejam portugueses, mas originários de zonas de missão.
Para nós é um sinal de Deus, para que não cruzemos os braços, continuemos a investir numa pastoral vocacional que toque no coração dos adolescentes e jovens, e que sintamos que a nossa missão tem toda a actualidade e que tem de continuar.
Uma das expressões visível do vosso trabalho tem a ver com o envolvimento dos jovens, nomeadamente do movimento Jovens Sem Fronteiras (JSF). São missões muitos participadas?
Esta opção pelos Jovens Sem Fronteiras tem quase 40 anos e tem dado resultados. Por exemplo, estes dois novos padres passaram pelos Jovens sem Fronteiras. Temos umas quarenta paróquias que têm grupos de JSF, e é aí que eles trabalham essencialmente. Mas, depois temos uma série de actividades de âmbito mais regional, ou mais nacional, como as seis Semanas Missionários que fizemos em Julho e Agosto e a Missão Ponte, que é sempre a experiência emblemática. É lá fora, este ano em Cabo Verde.
Há também sempre um, dois ou três jovens que vão por um ano ou dois em missão de voluntariado, e que fazem um trabalho missionário equiparado ao padre, à irmã ou ao irmão que já lá estão, porque vão com muita motivação e bem preparados em termos técnicos, profissionais, e pastoralmente. Mostram à comunidade local que podemos ser cristãos e missionários de muitas formas. É um testemunho importante.
No último fim-de-semana decorreu o Encontro Nacional dos Jovens sem Fronteiras. Foi muito participado?
Participaram duzentos e tal jovens. Correu muito bem, com uma série de workshops que tentaram fazer a ligação entre a arte, a cultura e a fé. Foi muito interessante.
Estamos no mês das missões. O movimento missionário em Portugal “está bem e recomenda-se”?
Está. Podia obviamente melhorar a sensibilidade missionária, em algumas paróquias ainda não é aquela que poderia ser, mas acho que há um caminho muito longo que foi feito, protagonizado sobretudo pela Obras Missionárias Pontifícias e pelos Institutos Missionários Ad Gentes, em colaboração muito estreita. Por exemplo, a construção do guião missionário, que se chamou durante muitos anos o guião do “Outubro Missionário”, agora tirou-se o “Outubro” para que seja um guião usado durante o ano todo. É um instrumento que chega a todas as comunidades paroquiais e é muito distribuído, tem muitas propostas de reflexão, vigílias de oração, meditações para via sacras, rosários e outras celebrações, o que permite que o coração do povo cristão português bata também ao ritmo do coração de Cristo e da missão da Igreja.
A esse nível há um caminho que está feito, certamente que o caminho se faz a andar e ainda há muita coisa a melhorar e implementar. Mas, há de facto uma sensibilidade missionária no nosso povo que vem ao de cima neste mês de Outubro, que é também o mês do rosário, e sabemos que Maria é a missionária por excelência.