"Temos de fechar a torneira" à criação de mais plástico e ao "greenwashing"
04-11-2021 - 15:59
 • Daniela Espírito Santo

Painel moderado por jornalista da Renascença debateu papel das empresas que fazem "falsa publicidade ecológica".

A edição da Web Summit deste ano coincidiu com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), facto que não passou despercebido pelo palco Planet:Tech. O problema do plástico serviu de mote a uma discussão sobre ambiente, esta quinta-feira, moderada pelo jornalista da Renascença José Pedro Frazão.

Em palco, Dianna Cohen, fundadora da Plastic Pollution Coalition, e Deia Schlosberg, realizadora responsável pelo documentário "The Story of Plastic" (A História do Plástico), que venceu um Emmy.

Ambas defenderam que é preciso nova legislação para garantir que o problema do plástico não se perpetua. "A indústria coloca a culpa no consumidor, mas a verdade é que precisamos de uma mudança de cultura e as empresas precisam de ser responsabilizadas", começou por dizer Dianna, que lidera o movimento social que procura reduzir a poluição. Deia concorda e apela à mobilização cívica. "Enquanto cidadãos, temos o poder coletivo para forçar nova legislação", diz.

Algumas empresas já se juntaram ao movimento por uma solução mais "verde". "O mundo corporativo está a acordar para o problema, mas tem de passar a fazer parte da estratégia das empresas", orienta Dianna. Mesmo assim, muitas empresas fingem ser "verdes" fazendo "greenwashing", ou seja, investem em "falsa publicidade ecológica", financiando limpezas de lixo, mas continuando a contribuir para a poluição, "sem mudar nada na produção".

O exemplo português acabou por vir à baila, com Dianna a reconhecer que o país baniu, recentemente, os utensílios de utilização única. No entanto, não somos os únicos. "Está a acontecer um pouco por todo o mundo", garante, assegurando, mesmo assim, que deveríamos ir mais longe, "apoiando sistemas de incentivo à reutilização de materiais". "Também devemos introduzir moratórias para bloquear novas instalações da transformação de produtos petrolíferos. Não precisamos de mais", acrescenta.

Deia reitera que, apesar dos produtos que poluem o mundo serem, maioritariamente, produzidos "por companhia europeias e norte-americanas", este é um problema que afeta todos os países, sem exceção.

"O que mais me surpreendeu ao filmar foi descobrir que muito do nosso lixo é exportado para outros países. As pessoas daqueles países têm de lidar com o nosso lixo, passear em pilhas de plástico", lixo esse que é, muitas vezes, "de produtos que nem são vendidos" naqueles países.

A Covid-19 não ajudou. "Durante a Covid aumentamos imenso o consumo de plástico de utilização única. Estávamos num caminho melhor e tivemos de dar alguns passos atrás". Mas... o que podemos fazer? "Temos de fechar a torneira. Este é um problema que tem de ser prevenido. Não conseguimos resolver isto nem com todas as limpezas do mundo", diz Dianna, perentória. E os empreendedores de agora podem dar um contributo importante, pois não há más ideias.

"Este é o vosso momento. Carpe diem. As empresas que tomarem boas medidas agora vão ser compensadas pela Gen Z. Eles ser-lhe-ão leais", assegura Dianna.