Covid-19. Mais de 10% dos casos nas últimas duas semanas foram reinfeções
26-05-2022 - 16:58
 • Diogo Camilo

Dados fornecidos à Renascença pela DGS revelam que 27 pessoas em Portugal já estiveram infetadas por quatro vezes. Mais de 230 mil pessoas já tiveram Covid-19 por mais do que uma vez e a taxa de reinfeção está a disparar em maio.

Mais de 230 mil pessoas já foram reinfetadas com Covid-19 em Portugal, desde o início da pandemia.

A taxa de reinfeção disparou neste mês de maio, representando nas últimas duas semanas mais de 10% de todos os novos casos registados, e o padrão evolutivo do vírus aponta para que que se caracterizam por fugir à imunidade

Segundo dados da Direção-Geral da Saúde fornecidos à Renascença, 27 pessoas foram infetadas pela Covid-19 por quatro vezes desde 2020 (menos de 0,001% dos casos), enquanto 2.720 estiveram infetadas três vezes (0,06% do total de casos) e mais de 227 mil foram reinfetadas pelo vírus da Covid-19 por uma vez (5% do total).

Na semana passada, a DGS passou a incluir dados relativos a reinfeções nos relatórios e publicações de monitorização da pandemia, acrescentando mais de 194 mil casos de reinfeção entre junho de 2020 e maio de 2022 aos números totais - uma taxa de reinfeção de cerca de 4,7%

À Renascença, a autoridade de saúde revela que o número de reinfeções chegou esta segunda-feira aos 230 mil, tendo sido registados mais de 35 mil casos de reinfeções entre 337 mil casos confirmados nas últimas duas semanas, com a taxa de reinfeção a subir de 6% em abril para quase 10% entre os dias 11 e 23 de maio.

Maio ainda não acabou e é já o segundo mês em que foram registadas mais reinfeções, apenas atrás de janeiro, que testemunhou o pico da quinta vaga da pandemia e mais de 80 mil casos de reinfeção. Ainda assim, a proporção de reinfetados é muito maior agora: 9,9%, em relação aos 6% registados na altura.


Reinfeções aumentam com a variante Ómicron

Segundo o relatório divulgado pela DGS, a prevalência de casos de reinfeção ficou mais elevada no período em que a variante Ómicron se tornou mais frequente: desde que esta se tornou dominante, a taxa de reinfeção é de 6,1%, superior à proporção de cerca de 2% no período em que as variantes Delta e Alfa eram mais frequentes, e de apenas 0,35% no período da variante original, identificada em Wuhan, na China.

O documento da DGS revela ainda que é na região Norte que se têm registado mais reinfeções da Covid-19 nas últimas semanas e que a faixa etária dos 20 aos 40 anos é a única que regista uma taxa de reinfeção acima dos 10%.


“Vírus está a fugir à imunidade, mas não causa doença mais grave”

À Renascença, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes explica que a probabilidade de reinfeção aumenta significativamente devido à queda do nível de anticorpos a partir do quarto ou quinto mês após uma primeira infeção.

“Mais de metade da população e já todos foram vacinados, mas a probabilidade de ser reinfetado depende muito de quanto tempo passou desde que a pessoa teve a última infeção ou a última dose da vacina. Há um decaimento dos anticorpos que é mais intenso a partir do quarto, quinto mês. E, a partir do momento em que estão com uma concentração muito baixa e a pessoa entra em contacto com uma variante ou sub variante da Ómicron, a probabilidade de ser reinfetado é significativa”, diz o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A diferença da Ómicron para outras variantes é que parece fugir ao padrão de sazonalidade que caracteriza outros coronavírus, tornando mais provável o aparecimento de vagas durante o verão e tempos mais quentes. No entanto, Carmo Gomes explica que, embora o vírus esteja a evoluir, “não causa doença mais grave”.

“A má notícia é que, ao contrário de outros coronavírus e de vírus que causam infeções respiratórias, este não parece ter uma sazonalidade muito marcada. A boa notícia é que o vírus está a evoluir de forma a fugir à nossa imunidade, e portanto pode-nos reinfetar, mas não causa doença mais grave”, esclarece.

Reinfeção vai ser o novo normal?

Questionado sobre se será se as reinfeções se tornarão cada vez mais normais, Carmo Gomes refere que, se a Ómicron se continuar a desdobrar em sub variantes que se caracterizam por ter capacidade de fugir aos anticorpos de infeções anteriores, o risco de infeção aumentará: “Não quer dizer que existe mais probabilidade de ser infetado, quer dizer que, se for infetado, a probabilidade de ser reinfeção é maior.”

A possibilidade de múltiplas reinfeções já tinha sido avançada por outros especialistas. Um estudo publicado na revista científica Science aponta que esta nova variante da Covid-19 se tornou especialista na reinfeção e que "é provável que a reinfeção se torne um padrão a longo prazo", podendo serem registadas duas ou mesmo três ondas de infeções ao longo de um ano.

“Este vírus vai continuar a evoluir. E haverá muitas pessoas que terão muitas, muitas reinfeções ao longo das suas vidas”, disse ao New York Times Juliet Pulliam, investigadora principal do estudo realizado na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, que confirma os números de Portugal de que a variante Ómicron tem uma taxa de reinfeção muito superior à de variantes anteriores.

No entanto, estas reinfeções não apagam o propósito das vacinas. O número de mortes e internamentos em Portugal está a subir nas últimas semanas, mas não ao ritmo de outras vagas - nem mesmo da vaga de janeiro.

Esta quarta-feira, Carmo Gomes avançou à Renascença que o número de internados encontrava-se já nos 1.700 doentes em enfermaria - eram 1.059 no início de maio -, e 95 pessoas em cuidados intensivos, em relação aos 85 internamentos em UCI registados na semana passada e aos 60 registados no início de maio.

Em janeiro, chegaram a estar internadas mais de 2.500 pessoas e 180 em cuidados intensivos.

O epidemiologista indicou também que Portugal estava a entrar no pico da sexta vaga da pandemia, uma estimativa confirmada esta quinta-feira pelo Ministério da Saúde. A média de casos não ultrapassou ainda os 30 mil casos, metade do número que a ministra Marta Temido previu na semana passada para o final deste mês de maio.

A incidência da pandemia a sete dias está atualmente nos 1.835 casos por cada 100 mil habitantes, tendo registado duas descidas nos últimos três dias, com o pico a ter acontecido, até ao momento, na passada sexta-feira, 20 de maio, em que a média diária de casos chegou aos 27.594.