Quem é o novo primeiro-ministro?
24-11-2015 - 12:30
 • Lusa

Benfiquista, agnóstico, casado e com dois filhos, António Costa é definido como um político seguro de si, irrequieto, persistente e temperamental. Dá murros na mesa e eleva a voz nas discussões mais acesas. É elogiado pela habilidade política e capacidade de negociação. Há quem lhe chame “manobrador e maquiavélico”.

Filho da jornalista Maria Antónia Palla e do escritor e técnico de publicidade Orlando Costa, goês e militante do PCP, António Luís Santos da Costa nasceu em Lisboa, a 17 de Julho de 1961.

Aos dez anos já escrevia críticas de televisão para “Século Ilustrado” e conta que decidiu ser socialista aos 12 anos. Foi também com essa idade que a personagem de policiais Perry Mason o “convenceu” a tornar-se advogado.

Aos 14 anos inscreveu-se na Juventude Socialista (JS), estrutura em que iniciou uma actividade política sempre acompanhada de perto pelo actual alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), António Guterres, ganhando especial notoriedade no movimento académico e ao dinamizar a Convenção da Esquerda Democrática em 1985.

Considerado um hábil negociador político, António Costa foi indigitado esta terça-feira primeiro-ministro e completa no domingo um ano como secretário-geral do PS. Vai agora formar Governo, apoiado pela maioria de esquerda no Parlamento, depois de uma derrota eleitoral.

O caminho para a liderança do PS

Presidente da Câmara de Lisboa entre Julho de 2007 e Abril de 2015, António Costa deu o primeiro passo para chegar à liderança do partido ao vencer o seu antecessor, António José Seguro, em eleições primárias – as primeiras abertas a simpatizantes – realizadas em Setembro de 2014, sendo então designado candidato socialista a primeiro-ministro.

Antes, em Junho de 2011, tinha recusado suceder a José Sócrates, na sequência da derrota dos socialistas nas eleições legislativas de Junho desse ano, mas esteve à beira de se candidatar à liderança do seu partido no início de 2013, acabando por recuar.

Apontado com frequência há mais de uma década como potencial líder do PS, decidiu entrar na corrida pela liderança depois das eleições europeias de Maio de 2014, argumentando que "à derrota histórica da coligação PSD/CDS não correspondeu uma vitória do PS com idêntica dimensão".

"Uma vitória por poucochinho", disse, numa crítica a António José Seguro.

Apesar de ter sido apoiado pelas principais figuras históricas socialistas, como Mário Soares e Jorge Sampaio, Costa teve de suportar três meses e meio de intenso conflito aberto com os apoiantes de Seguro, período em relação ao qual confessou publicamente ter aprendido "uma grande lição", designadamente sobre manobras estatutárias e violência de debate.

Foi eleito secretário-geral do PS, a 22 de Novembro de 2014, em directas, sem oposição e com 96% dos votos. Definiu como objectivos estratégicos para o seu mandato uma vitória com maioria absoluta nas legislativas, a recusa de entendimentos com o Governo PSD/CDS e a rejeição do conceito de “arco da governação”, que exclui forças como o Bloco de Esquerda e o PCP.

No seu primeiro ano de liderança, no entanto, deparou-se com factores adversos como os sucessivos episódios relativos à prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates, a que respondeu defendendo uma rigorosa separação entre justiça e política, e um cerrar de fileiras entre os partidos do Governo, PSD e CDS-PP, que se apresentaram às legislativas de 4 de Outubro unidos na coligação “Portugal à Frente” (PaF).

Nas eleições, a coligação PSD/CDS-PP venceu sem maioria absoluta com cerca de 38% dos votos e o PS ficou-se pelos 32%. Apesar da derrota eleitoral, António Costa não se demitiu das funções de secretário-geral.

Nas semanas seguintes, em vez de ser alvo de uma vaga de contestação interna no PS, tornou-se figura central da vida política ao envolver-se em negociações para a formação de um novo Governo, quer com a coligação PSD/CDS, quer com o Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes".

Ao fim de duas reuniões, PS e coligação PSD/CDS romperam as negociações. Três semanas depois, António Costa anunciou ter chegado a acordo com o Bloco de Esquerda, PCP e PEV para a formação de um Governo de iniciativa socialista.

Dá murros na mesa e sabe negociar

Benfiquista, agnóstico, casado e com dois filhos, António Costa é definido como um político seguro de si, irrequieto, persistente e temperamental.

Dá murros na mesa e eleva a voz nas discussões mais acesas e é elogiado pela habilidade política e capacidade de negociação.

Outros chamam-lhe "manobrador e maquiavélico" e chegam a compará-lo ao russo Rasputine, pelo prazer que lhe dão os jogos de bastidores, imagem que se acentua quando confessa a sua admiração pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi aluno.

António Costa aponta como modelos os antigos governantes Churchill e Gorbatchov, "por terem introduzido grandes e importantes mudanças no século XX", bem como o antigo-primeiro-ministro francês Michel Rocard, este último "pela capacidade de renovação das ideias socialistas".

O currículo

Licenciado em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito de Lisboa e com uma pós-graduação em Estudos Europeus pela Universidade Católica, o político com quem Mário Soares disse mais se identificar “enquanto jovem” esteve a partir de meados da década de 80 ligado ao sampaísmo, do qual se distanciou apenas nos governos de Guterres.

António Costa estagiou no escritório de advogados de Jorge Sampaio, chegou à direcção nacional do PS em 1986 pela sua mão, integrando uma equipa chefiada por Vítor Constâncio, apoiou sempre Sampaio para a liderança do partido, e foi o seu director de campanha nas presidenciais de 1996.

Ministro dos Assuntos Parlamentares e da Justiça nos dois governos liderados por Guterres, Costa continuou a ser um dos principais rostos dos socialistas a partir de 2002, ficando à frente da bancada socialista no parlamento, durante a liderança de Ferro Rodrigues.

Em 2004, candidatou-se ao Parlamento Europeu em segundo lugar da lista do PS, numa eleição em que os socialistas conseguiram maioria absoluta em mandatos, mas em que o cabeça de lista, o antigo ministro das Finanças Sousa Franco, faleceu em plena campanha, após incidentes entre socialistas na lota de Matosinhos.

Com José Sócrates como líder do primeiro Governo socialista de maioria absoluta, Costa foi o "número dois" desse executivo, desempenhando as funções de ministro de Estado e da Administração Interna.