"As notícias que chegam da Nicarágua magoaram-me muito", disse o Papa Francisco na manhã deste domingo, no final do Angelus.
"Não posso deixar de recordar aqui, com preocupação, o bispo de Matagalpa, Mons. Rolando Alvarez, a quem amo tanto, condenado a 26 anos de prisão, e também as pessoas que foram deportadas para os Estados Unidos."
Nos últimos anos, a instabilidade política na Nicarágua e a crescente limitação imposta à ação da Igreja Católica neste país têm causado sucessivas manifestações de protesto a nível nacional e internacional. Recentemente foram expulsos do país mais de 220 opositores do regime ditatorial de Daniel Ortega.
Neste contexto, Ortega declarou a Igreja "uma tirania perfeita", expulsando também o núncio apostólico representante da Santa Sé em Manágua. A ditadura tem vindo a prender vários sacerdotes e o bispo de Matagalpa acabou de ser condenado a 26 anos de prisão.
Mons. Rolando Alvarez, de 56 anos, foi considerado "um traidor da pátria", acusado de ter "conspirado para minar a integridade nacional e propagar notícias falsas através das tecnologias de informação e da comunicação em dano do Estado e da sociedade nicaraguense".
Francisco lançou na manhã deste domingo um apelo veemente, pedindo orações por esta nação, sobretudo, para que o coração dos responsáveis políticos e de todos os cidadãos possa abrir-se, "à busca sincera da paz que nasce da verdade, da justiça, da liberdade e do amor".
No final do Angelus, Francisco também não esqueceu as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria, para quem pediu orações e apoio concreto às populações afetadas.
"Continuamos a estar próximos, com a oração e com o apoio concreto às populações afetadas pelo terramoto na Síria e na Turquia. Rezemos por eles, não os esqueçamos. Rezemos e pensemos que coisa podemos fazer por eles."
O Santo Padre também fez questão de relembrar a "a martirizada Ucrânia". "Que o Senhor abra vias de paz e dê aos responsáveis a coragem de as percorrer."
Como vivo a fé? É uma questão de “fachada”?
Nas reflexões sobre o Evangelho deste domingo, o Santo Padre lembrou que "os mandamentos que Deus nos deu não devem ser trancados nos cofres asfixiantes da observância formal. Caso contrário, permanecemos numa religiosidade exterior e distante, servos de um 'deus patrão' e não filhos de Deus Pai".
Francisco deixou claro que "não basta dizer 'eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém, ou seja, estou bem'", porque isso é uma observância meramente formal, que se contenta com o mínimo indispensável.
"Lembremo-nos: Deus não raciocina por cálculos e tabelas; Ele ama-nos como um enamorado: não ao mínimo, mas ao máximo! Ele não nos diz: 'Eu amo-te até um certo ponto'. Não, o amor verdadeiro nunca é até um certo ponto e nunca se dá por satisfeito; o amor vai além, não pode passar sem ele."
Por isso, Francisco deixou a todos esta pergunta: "como vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é um caso de amor com Deus? Estou satisfeito por não fazer o mal, por manter a 'fachada', ou tento crescer no amor por Deus e pelos outros?"