Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) reúnem-se na segunda-feira para reforçar a mensagem de que a Ucrânia não está sozinha, numa altura em que o apoio de Washington está mais tremido do que nunca.
O consenso no Congresso dos Estados Unidos da América (EUA) sobre o apoio à Ucrânia já não existe.
Apesar dos sucessivos apelos do Presidente norte-americano, o Democrata Joe Biden, que ainda esta semana disse que o país invadido pela Rússia "não pode esperar mais", o apoio que outrora foi "inequívoco" hoje é frágil e o ano vai acabar sem a aprovação de um pacote de 106 mil milhões de euros para a Ucrânia, Israel e Taiwan.
Biden conseguiu assegurar mais de 160 milhões de euros para a Ucrânia, mas é insuficiente, com a guerra, hoje de atrito, num impasse e as Forças Armadas ucranianas a precisarem de mais e melhor armamento, e de recuperar infraestruturas críticas visadas pelas tropas russas.
Em contraciclo com Washington, os ministros com a pasta da diplomacia dos 27 querem reforçar que estão ao lado da Ucrânia enquanto houver necessidade, para transmitir a Vladimir Putin que não vai vencer a guerra pelo cansaço e para pressionar o parceiro do outro lado do Atlântico.
Dentro da UE, a Hungria está a ameaçar 'fechar a torneira' ao apoio económico-financeiro, nomeadamente um pacote de 50 mil milhões de euros, e a colocar em causa a estratégia dos 27 para a Ucrânia.
Estas duas questões vão ser discutidas na reunião de segunda-feira. O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, vai participar na reunião.
O agravamento das tensões no Médio Oriente também vai ser alvo de discussão. A União Europeia tem uma posição: apoio ao direito à defesa de Israel depois do atentado do movimento islamita Hamas, em 07 de outubro, apelando ao respeito pela lei humanitária internacional e a "pausas humanitárias".
Esta posição já não é defendida por todos os Estados-membros. Espanha e a Irlanda, por exemplo, já subiram o tom e apelaram a um cessar-fogo por causa da tragédia humana do conflito (mais de 17.000 mortos na Faixa de Gaza).
Em declarações à agência France-Presse (AFP), a ministra dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Hadja Lahbib, anunciou que o país vai apresentar uma proposta para impedir a circulação no espaço Schengen de colonos israelitas envolvidos na onda de violência que está a assolar a Cisjordânia e a levar à expulsão de famílias palestinianas das suas casas.
A ministra considerou que é preciso abordar um quadro de sanções para "colonos violentos".
Há vários anos que várias organizações não-governamentais e intervenientes políticos têm advertido Israel por causa da construção de colonatos naquele território palestiniano. A violência acentuou-se depois do atentado do Hamas em 07 de outubro e da incursão israelita em Gaza.
Os 27 governantes vão ainda discutir o agravamento da situação político-social e de segurança na região do Sahel, em África.
O Sahel diz respeito à região que agrega o Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, uma parte da Nigéria, Chade, Sudão, Etiópia, Jibuti, Eritreia e Somália.
Em menos de dois anos houve golpes militares no Mali, Níger e Burkina Faso. Em simultâneo, a UE está preocupada com a presença cada vez maior do grupo mercenário Wagner, que, depois da incursão em território ucraniano que acabou com uma curta insurreição contra Moscovo, se deslocou para África, onde a presença era já acentuada.
A reunião vai ser antecedida no domingo de um jantar informal entre todos os ministros e a líder da oposição na Bielorrússia, Sviatlana Tsikhanouskaya, exilada desde as últimas eleições presidenciais.
A principal opositora ao regime de Aleksandr Lukashenko vai abordar a degradação da situação democrática do país.
Na manhã de segunda-feira, os governantes vão reunir-se informalmente com o homólogo arménio, Ararat Mirzoyan, para discutir a instabilidade da região.
Está prevista uma conferência de imprensa do alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, no final.