Frente Cívica: Galamba devia ter saído do Governo "há muito tempo"
12-11-2023 - 12:37
 • Hugo Monteiro , Miguel Marques Ribeiro

Frente Cívica critica António Costa por adiar decisão sobre uma eventual saída de João Galamba do Governo para terça-feira e acusa o Primeiro-ministro de usar o "cargo para fazer a sua defesa".

A Frente Cívica defende a saída imediata de João Galamba do Governo. “É uma decisão que não devia ser adiada até terça feira”, afirmou à Renascença João Paulo Batalha.

António Costa vai reunir-se esta terça-feira com Marcelo Rebelo de Sousa e do encontro vai sair uma decisão sobre a manutenção ou não de João Galamba em funções, depois do mesmo ter sido constituído arguido no âmbito da Operação Influencer.

O dirigente da associação cívica diz mesmo que o ministro das Infraestruturas devia ter abandonado o cargo "há muito tempo, não só por ser arguido, mas por, aparentemente de forma comprovada, ter violado o código de conduta do Governo ao ter aceite almoços de luxo com investidores privados”.

António Costa usou "cargo para fazer a sua defesa"

A Frente Cívica critica o modo, o momento e o local das explicações dadas este sábado por António Costa sobre o caso em que se viu envolvido, relacionado com negócios do lítio e do hidrogénio e que levou à sua demissão na terça-feira.

“A promessa de que não interferiu no que está a ser investigado é uma questão, neste momento, exclusivamente do foro judicial e, portanto, não era o momento, nem o lugar, nem o modo de a fazer”, afirmou o vice-presidente da Frente Cívica que acusa Costa de usar "o cargo para fazer a sua defesa, não só política, mas judicial".

Quanto à garantia de não interferência nos casos em investigação, essas são explicações que deviam ser dadas primeiro na justiça, refere João Paulo Batalha. “Para explicações públicas, é demasiado tarde. Para explicações judiciais, é demasiado cedo, porque ele ainda não foi convocado e seguramente não era neste fórum de uma conferência de imprensa às 20h00”.

Na declaração ao país efetuada este sábado, desde o Palácio de São Bento, António Costa pediu desculpa e assimiu estar envergonhado com com o dinheiro encontrado no gabinete de Vitor Escária. O primeiro-ministro disse ainda que um chefe de governo não tem amigos e admitiu que provavelmente não voltará a exercer cargos públicos.

Caso evidencia que "papel de quem governa é torcer ou retorcer as regras"

O conteúdo das explicações dadas por António Costa também não convenceram o dirigente da associação cívica.

“As palavras de António Costa sobre o ex-chefe de gabinete, Vitor Escária, já vêm tarde”, afirma João Paulo Batalha, admitindo que, apesar de o pedido de desculpas apresentado pelo governante fazer "sentido no plano político”, a idoneidade de Vitor Escária, que é um dos detidos na “Operação Influencer”, "já tinha sido questionada antes de ele assumir o cargo".

A Frente Cívica considera ainda incongruente que António Costa peça que se deixe a Justiça funcionar relativamente às acusações de que é alvo, ao mesmo tempo que pede desculpas pelo comportamento de um assessor que ainda não foi julgado em tribunal.

Para o dirigente, o discurso de António Costa tenta normalizar uma situação de promiscuidade entre o poder político e os grupos económicos.

É o próprio “Estado Português e o primeiro-ministro a explicar porque é que é normal, natural e desejável haver negociações diretas entre governantes e empresários interessados num projeto”, referiu.

Este caso, diz João Paulo Batalha, vem evidenciar que ”o papel de quem governa é precisamente torcer ou retorcer as regras, as leis e os mecanismos do ordenamento do território para facilitar investimentos de empresários, sejam eles quais forem”.

Manutenção do Governo em funções é situação "irregular" e "perigosa"

Para João Paulo Batalha, o facto de a demissão primeiro-minstro já ter sido aceite pelo Presidente da República, mas a sua formalização ter sido adiada para depois da aprovação do Orçamento do Estado cria uma situação “irregular” e “perigosa” que não é benéfica para o país.

“Estamos numa situação caricata em que António Costa está num registo que já não é o de primeiro-ministro, mas usando os meios e o cargo de primeiro-ministro para dar explicações que vê fora de tempo”, afirmou.

Centeno põe em causa "a reputação institucional do Banco Central"

Sobre Mário Centeno, João Paulo Batalha diz que o seu comportamento “é completamente incompatível com as obrigações de independência, nomeadamente a independência política e partidária do governador do Banco de Portugal”.

Mário Centeno foi convidado pelo primeiro-ministro para o substituir na chefia do Governo. O convite foi criticado pelos partidos da oposição que falam numa quebra da independência do governador. A comissão de ética do Banco de Portugal vai reunir na próxima segunda-feira para discutir o caso.

“Centeno não tem condições para continuar no cargo e deveria simplesmente atalhar que este drama alastrasse para a reputação institucional do Banco Central e apresentar a sua demissão”, diz João Paulo Batalha.