O primeiro-ministro garante que o dispositivo de combate a fogos estará a tempo e horas no terreno, mas essa não é ainda a prioridade do Governo.
“Neste momento o que é prioritário é cada um fazer no momento certo o que deve ser feito. Neste momento a grande prioridade que devemos ter em tudo o país é, até ao dia 31 de maio, fazer um grande esforço para eliminação das condições de risco porque quanto menor for o risco, menor é a probabilidade de acontecer uma tragédia e é aí que devemos concentrar os nossos esforços”, disse António Costa depois de questionado pela Renascença sobre as dúvidas existentes quanto à organização do dispositivo de combate a fogos e de proteção civil para a época de incêndios.
Questionado pela reforma da Proteção Civil, o primeiro-ministro afirmou que tanto as leis orgânicas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas como da Autoridade Nacional da Proteção Civil estão a andar, mas assumiu que “são para entrar em vigor no próximo ano”.
António Costa falava numa das bermas da estada nacional 361, na freguesia de Campelos, concelho de Torres Vedras, onde foi ver como está a ver feita a limpeza de terrenos à beira das estradas.
O primeiro-ministro saudou o esforço da Infraestruturas de Portugal em criar zonas de segurança à beira de 6400 km de estradas e 2400 km de ferrovias. Um trabalho apresentado pelo presidente da Infraestruturas de Portugal, António Laranjo, que António Costa conhece muito bem, pelo menos desde o tempo em que tutelou a Expo 98 e Laranjo era o responsável pela construção da Estação do Oriente.
“Isto não há-de ser mais difícil do que a Gare do Oriente”, disse este sábado António Costa, recordando o momento em que, como ministro com dúvidas, perguntou ao engenheiro se a obra estaria pronta a tempo e horas para o inicio da exposição e teve uma resposta positiva que se confirmou.
Simulacros em maio
Ainda a apresentação da limpeza das beiras das estradas decorria, quando um dos poucos populares que acorreram, levantou a voz para dizer ao primeiro-ministro que este é um trabalho que tem de ser feito todos os anos. Costa concordou e disse que, se for feito todos os anos, não custa tanto porque não se acumula tanto material combustível.
Não foi o único freguês de Campelos a interpelar o primeiro-ministro.
Logo à chegada, enquanto decorriam os cumprimentos, Costa foi desafiado a mudar a lei que permite o contrafogo, mas limita quem o pode fazer. “O fogo não se combate com água, combate-se com fogo”, disse um dos homens que esperava pelo chefe do Governo à beira da estrada pouco depois da saída 10 da autoestrada número 8.
E depois da cerimónia, um outro habitante da região questionou o primeiro-ministro sobre a existência de apoios para quem tem de limpar terrenos. Costa respondeu com a linha de crédito existente, mas o homem disse que não se queria endividar e que era preciso era usar as máquinas do exército para ajudar os proprietários que, além de cortarem os eucaliptos, têm de arrancar os cepos. E deu o seu exemplo: ganhou 800 euros com os eucaliptos, mas tem de gastar 600 a arrancar os cepos. Acabou por ter a promessa do presidente da Câmara de Torres Vedras de que haverá máquinas no terreno a ajudar quem precisa.
Depois desta fase de limpeza dos terrenos, em maio, prioridade será dar meios e formação às populações para ocasiões de catástrofe.
Trata-se do programa “Aldeias Seguras”, no qual o Governo vai “dotar cada aldeia de kits de primeira intervenção, planos de evacuação e planos de emergência”. Além disso, acrescentou Costa, em declarações aos jornalistas, a Autoridade Nacional da Proteção Civil “está a preparar para maio um conjunto de simulacros para preparar em cada povoação as medidas que devem ser adotadas em caso de tragédia - deve-se ficar em casa ou sair, quais os percursos seguros de evacuação – de modo a que todos tenhamos uma consciência mais arreigada sobre as medidas que são necessárias tomar em caso de catástrofe”.
A paragem à beira da Nacional 361 marcou, para o primeiro-ministro, o fim de um dia dedicado a alertar o país para a importância de limpar os terrenos. Uma iniciativa que envolveu quase todo o Governo e até o Presidente da República, mas que o líder do PSD, Rui Rio, classificou como um ato de propaganda.
Questionado sobre essa afirmação de Rio, o primeiro-ministro preferiu falar em “ação de comunicação”. “É uma ação de comunicação de alertar o país e incentivar o país a prosseguir esta ação [afirmando]que é absolutamente fundamental cumprir a lei em redor das casas e das comunicações, das vias de comunicação ou de eletricidade, e ter matas limpas sem material combustível acumulado, porque quando mais limparmos agora mais eliminamos o risco”, respondeu António Costa, que esteve acompanhado pelo ministro da Agricultura, Capoulas Santos, o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme Waldemar d'Oliveira Martins, e a secretária de Estado Adjunta, Mariana Vieira da Silva.