Agora foi com as letras todas. O líder parlamentar do PSD afasta qualquer aproximação ao Chega e nomeia mesmo o nome do partido presidido por André Ventura. "Connosco não há qualquer hipótese de acordos com forças extremistas sejam elas de direita ou de esquerda".
Questionado pela Renascença se isso inclui o Chega, Joaquim Miranda Sarmento responde "sim, sim, com o Chega", acrescentando que "da mesma forma que não nos passaria pela cabeça fazer acordos com o Bloco de Esquerda e com o PCP".
"Connosco não há qualquer hipótese de acordos com forças extremistas sejam elas de direita ou de esquerda, com forças que não são democráticas e não estão alinhadas com forças essenciais do nosso regime, seja do ponto de vista democrático seja do ponto de vista de construção europeia, da participação na Nato, etc".
Esta é a frase completa de Miranda Sarmento no programa São Bento à Sexta da Renascença em que por várias vezes o dirigente social-democrata foi desafiado pelo líder parlamentar do PS a definir uma "linha vermelha" em relação ao partido de André Ventura.
Miranda Sarmento vai assim mais longe do que o próprio líder do PSD, que esta semana após a sessão solene do 25 de abril, no Parlamento, disse aos jornalistas praticamente a mesma coisa, mas sem nunca esclarecer se inclui Ventura entre os políticos com quem o partido "não alinha" por terem "na sua ação política a xenofobia, o racismo, o oportunismo, a imaturidade e a irresponsabilidade".
No debate na Renascença, Miranda Sarmento considerou o protesto do Chega na sessão de boas vindas ao presidente do Brasil como "muito grave" e "mostra que há, de facto, um partido que não respeita as instituições e que se comporta de uma forma que não é adequada e de uma forma absolutamente irresponsável e imatura".
Mas as críticas de Miranda Sarmento não se resumem ao Chega. "Também, não sejamos ingénuos. Há algum interesse da parte do presidente da Assembleia da República e do próprio PS em que o Chega faça estes números numa lógica que já vimos noutros países".
O dirigente social-democrata salienta que Augusto Santos Silva "fomenta a atenção mediática sobre esse partido" e "o comportmento do presidente da Assembleia da República não é inocente".
O dirigente social-democrata puxa atrás a fita do tempo e recorda palavras de Santos Silva quando era ministro de José Sócrates, em 2008, em que terá dito "que a democracia fez-se com Mários Soares e Francisco Sá Carneiro, não se fez com Álvaro Cunhal".
Para Miranda Sarmento é "essa coerência que por vezes falta e há aqui uma tentativa de condicionar o PSD com o Chega, mas do nosso lado não nos condicionam", avisa o líder parlamentar social-democrata.
Em mais um debate vivo entre os dois líderes parlamentares, Eurico Brilhante Dias por diversas vezes desafiou Miranda Sarmento a estabelecer uma "linha vermelha" em relação ao Chega.
"O Chega nasce da divergência da direita e o que dizemos é que é preciso fazer uma linha vermelha. O que queremos é ajudar o PSD a salvar-se como partido democrático", atirou Brilhante Dias.
"Aquilo que existe noutros países da Europa é a extrema-direita a fazer esse discurso, a crescer à boleia de problemas e nunca de soluções e depois contamina o discurso da direita democrática", acrescentou o dirigente socialista.
Sobre a decisão de Santos Silva em afastar os 12 deputados do Chega das viagens que realiza ao estrangeiro, Miranda Sarmento não esclarece se está de acordo. "É uma decisão que entendeu tomar", salientando que "o presidente da Assembleia quando vai nas suas viagens enquanto presidente decide quem leva e quem não leva, é uma decisão da sua estrita competência".
Miranda Sarmento acrescenta ainda que "não estamos a falar de deslocações oficiais da Assembleia, em que aí os deputados que fazem parte de cada um dos órgãos - da União Internacional parlamentar, a representação da Assembleia na Nato - aí há deputados que participam nessas missões e vão".
Do lado do PS, Eurico Brilhante Dias dá a garantia: "A linha vermelha que estabelecemos vai manter-se. O presidente da Assembleia da República tem uma obrigação, que o regimento seja respeitado. Foi para isso que ele foi eleito. Ninguém peça ao presidente da Assembleia da República para não respeitar o regimento".
Aqui o líder da bancada do PSD, Miranda Sarmento, atalhou, referindo que "ninguém está a pedir isso. O que estamos a pedir é que ele seja presidente da Assembleia da República e não deputado do PS".
Durante o debate, o lider parlamentar do PS mostrou-se "chocado" com a frase escrita pelo líder da Iniciativa Liberal que se referiu a Santos Silva como "fruta passada", após ser divulgada uma conversa entre o presidente do Parlamento, o Presidente da República e o primeiro-ministro.
Brilhante Dias questionou se "alguém acha que este tipo de linguagem nos leva a algum lado?". O líder parlamentar socialista salienta que Santos Silva "em privado fala de imaturidade política e o líder da IL diz que o presidente da Assembleia é fruta passada", lamentando com um "isto assim não vamos lá", para concluir que "a IL está entalada entre o PSD e o Chega".
Neste ponto do debate Miranda Sarmento recordou que Augusto Santos Silva em tempos "já usou" a expressão 'feira de gado' sobre a concertação social ou 'malhar na direita', ressalvando que não estava ali para defender a IL.