"É um gosto começar uma nova fase da minha vida", começou por dizer Pedro Nuno Santos nos primeiros segundos da estreia do seu novo espaço de comentário na SIC Notícias.
O antigo ministro das Infraestruturas, que tem sido sucessivamente apontado como possível futuro líder do PS, garantiu esta segunda-feira que não vai ser o "porta-voz" dos socialistas, mas também assegurou que não será "oposição" ao Governo, do qual já fez parte.
"Não está na minha cabeça neste momento", respondeu Pedro Nuno Santos quando questionado sobre se pensa tornar-se secretário-geral do PS. O agora deputado seca a questão, dizendo que António Costa deve ser reeleito líder do partido novamente e vincando que o chefe do Governo deve sempre ser a mesma pessoa que está à frente dos socialistas.
Ainda sobre o seu futuro político, Pedro Nuno Santos colocou-se de fora da corrida às eleições europeias, que vão decorrer em junho de 2024. "Não tenho qualquer vontade, ambição ou gosto pelo Parlamento Europeu", esclareceu o socialista.
Pedro Nuno Santos demitiu-se do Governo em dezembro do ano passado, depois de se tornar público que tinha autorizado o pagamento de uma indemnização no valor de meio milhão de euros a Alexandra Reis para sair da TAP.
Este foi o segundo e derradeiro caso que orbitou em torno de Pedro Nuno Santos desde que a maioria absoluta. No verão de 2022, o então ministro das Infraestruturas e da Habitação aprovou uma solução para o novo aeroporto de Lisboa sem a autorização do primeiro-ministro, António Costa.
Sobre estes dois incidentes, Pedro Nuno Santos assume que "marcam" a sua vida política, mas prefere afastar a lente para lembrar que foi eleito deputado pela primeira vez em 2005, e defender "todos" têm momentos menos bons "nas suas carreiras".
Subida das taxas de juro. "Podíamos ter ido mais longe"
Abrindo um dossier que já tutelou, Pedro Nuno Santos foi questionado sobre a crise na habitação. "Não me sinto responsável pela crise na habitação", clarificou o ex-ministro. Para sustentar, Pedro Nuno Santos lembra que o PS fez "um investimento sem precedentes" e que esse investimento começou quando ele próprio ainda estava no executivo.
O agora deputado acrescenta que houve um investimento repentino no mercado da habitação e que isso provocou uma enorme pressão sobre os preços da habitação. "Ninguém estava preparado", defense-se.
Numa altura em que as taxas de juro atingem valores máximos da última década, Pedro Nuno Santos pressiona o governo mas fala na primeira pessoa do plural para dizer que "podíamos ter ido mais longe" nas medidas que o governo aprovou no mês passado que visam estabilizar as prestações das famílias.
Pedro Nuno Santos, que ocupa assumidamente uma ala mais à esquerda dentro do PS, argumenta que paralelamente aos aumentos das prestações, os bancos registaram lucros extraordinários e por isso, deviam ser utilizados "através da sua taxação" para reduzir o impacto desses aumentos na vida das pessoas.
"Em 2011, 2012, os portugueses foram chamados a injetar milhares de milhões de euros na banca portuguesa quando ela precisou", lembra o ex-ministro socialista, que diz que "o novo lucro caído do céu" devia ser redistribuído.
TAP "dará muito mais do que os 3.2 mil milhões de euros"
Classificando como "colossal" o trabalho feito pelo governo em torno da TAP, quando o governo teve de fazer um plano de reestruturação à companhia aérea durante a pandemia, Pedro Nuno Santos mostrou-se aberto à venda de uma parte da TAP, mas nunca sem o Estado controlar "a maioria do capital".
Referindo-se a uma empresa com que trabalhou de perto, e que recebeu uma injeção de 3.2 mil milhões de euros, o antigo ministro das Infraestruturas garante que o preço de não ter salvo a TAP seria "muito maior" e cita um estudo que estima que custaria 10 mil milhões de euros deixar cair a companhia aérea.
"Temos a obrigação de explicar que o país perderia muito mais do que esse dinheiro que foi injetado, e que a TAP dará muito mais à economia portuguesa do que os 3.2 mil milhões, mesmo que nem 1% [do capital] seja vendido", promete Pedro Nuno Santos.
Questionado sobre a hipótese, admitida pelo PSD, de não aceitar a decisão da Comissão Técnica Independente para a localização do novo aeroporto de Lisboa, o antigo ministro das Infraestruturas diz que "não deixa de ser extraordinário" que os social-democratas estejam agora a dar o dito por não dito. E fala numa "tentativa de condicionamento" por parte do maior partido da oposição.