O portal "Vatican News" publicou esta terça-feira a reprodução da conversa mantida entre o Papa e os jornalistas no voo de regresso da sua viagem à Mongólia. Numa das questões, o jornalista lembra o desejo do Papa de uma igreja sinodal, na Mongólia e no mundo, e sublinha:
“A assembleia de outubro já é fruto do trabalho do povo de Deus”, seguido da questão: “Como será possível envolver os batizados de todo o mundo nessa etapa? Como será possível evitar a polarização ideológica? E os participantes poderão falar e compartilhar publicamente o que estão a viver, ou todo o processo será secredo?"
Na resposta, Francisco garantiu que “no Sínodo não há lugar para ideologia, é outra dinâmica” e que “o Sínodo é diálogo, entre os batizados, entre os membros da Igreja, sobre a vida da Igreja, sobre o diálogo com o mundo, sobre os problemas que afetam a humanidade hoje”.
O Papa também advertiu para o facto de que, “quando se pensa em seguir um caminho ideológico, o Sínodo termina”.
“No Sínodo não há lugar para ideologia, há espaço para o diálogo, para confrontar uns com os outros, entre irmãos e irmãs, e confrontar a doutrina da Igreja”, reforçou.
Francisco referiu que a sinodalidade não é uma invenção sua, mas “de São Paulo VI, quando o Concílio Vaticano II terminou, percebeu que no Ocidente a Igreja havia perdido a dimensão sinodal”, e criou a Secretaria do Sínodo dos Bispos, que nestes 60 anos tem promovido “a reflexão de maneira sinodal, com progressos contínuos”.
A sinodalidade, adianta, “é um momento religioso, é um momento de intercâmbio religioso”.
“Pense que as introduções sinodais de três a quatro minutos cada, serão três discursos e depois três a quatro minutos de silêncio para oração. Depois, mais três, e oração. Sem esse espírito de oração não há sinodalidade, é política, é parlamentarismo. O Sínodo não é um parlamento”, insistiu.
Por outro lado, o Papa revelou ainda que o prefeito do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), Paolo Ruffini, vai fazer “os comunicados sobre o andamento do Sínodo”, e “vai dar notícias todos os dias”, pelo que não haverá qualquer tipo de secretismo.
Francisco foi também confrontado com a oposição à assembleia sinodal, em particular do cardeal Burke, que no prólogo de um livro diz que “o Sínodo é o vaso de Pandora de onde sairão todas as calamidades para a Igreja”, e revelou que há alguns meses telefonou para um Carmelo não italiano e a madre superiora lhe contou que as monjas estavam com “medo do sínodo”, com medo que mudasse “a doutrina”.
“Quando na Igreja se quer romper o caminho de comunhão, aquilo que rompe é a ideologia. E acusam a Igreja disto ou daquilo, mas jamais a acusam daquilo que é verdadeiro: pecadora. Defendem uma doutrina entre aspas, que é uma doutrina como a água destilada, não tem sabor a nada e não é a verdadeira doutrina católica, que está no Credo e que muitas vezes causa escândalo; assim como escandaliza a ideia de que Deus se fez carne, de que Deus se fez Homem, de que Nossa Senhora manteve a sua virgindade. Isso escandaliza”, respondeu.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023. Entretanto, Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.