Neste dia em que se assinala a Solenidade de S. Vicente, o Padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente escreveu uma carta aos diocesanos de Lisboa em virtude de ter sido cancelada a Missa que estava prevista para esta sexta-feira, às 19h, na Sé Catedral, "dada a gravidade da pandemia e o grande perigo de contágios".
Dirigida a "leigos e consagrados, diáconos e sacerdotes", o Cardeal Patriarca lembra que foram de novo suspensas todas as celebrações, mas garante que "nem por isso deixamos de estar com todos e para todos, no que a caridade tem de mais radical e salvador. Cristo estava só, no alto da sua cruz, e assim mesmo nos salvou, pela totalidade da entrega. Vicente também estava só no seu martírio e também assim o seu testemunho nos alcança e alenta".
Nesta carta, destaca "as circunstâncias especiais" em que vivemos por causa da Covid-19 e lembra em especial "os doentes e seus cuidadores" e ainda "os muitos que, entretanto partiram".
Sobre o combate à pandemia, D. Manuel Clemente elogia os "cuidadores e entidades públicas e particulares" que "se desdobram em atos abnegados de prevenção e tratamento da doença. E os testemunhos são muitos de que, recorrendo a todos os meios necessários e possíveis, é no mais íntimo de si mesmos que encontram força para prosseguir e responder a tantos casos".
E acrescenta "queremos estar com eles na oração e na atuação prudente, que por isso é verdadeira. Redobraremos a criatividade para usar meios de comunicação não presencial para chegar a cada um, quer transmitindo celebrações, quer por mensagens de internet ou telefone. Como Cristo naquele dia em Jerusalém, ou Vicente depois em Valência, no mesmo Espírito. O coração não tem distância".
Termina dizendo que "estamos convosco, eu e os meus colegas Bispos ao serviço do Patriarcado, em oração e companhia constantes".
Esta carta vem acompanhada da Homilia que tinha sido preparada para a Missa prevista para o final desta tarde na Sé de Lisboa e que iria assinalar a Solenidade de S. Vicente, mas que foi cancelada por causa do agravamento da pandemia.
Na Homilia, que tem como tema "O grão caído na terra, que continua a dar fruto", o Cardeal evoca a figura de S. Vicente, "diácono de Cristo na antiga Saragoça", morto em Valência, Espanha.
No texto, recorda que "com Vicente, a luta era contra a idolatria que lhe queriam impor. Connosco, é contra a pandemia que rouba muitas vidas e exige tanto esforço. A idolatria definhava as almas, como a pandemia o faz hoje aos corpos. Comum é em muitos – e deve ser em todos – a determinação anímica de persistir, fiéis, solícitos e prestáveis, no que couber a cada um, por ação ou resguardo, apoiando como puder doentes e cuidadores, pessoas sós ou deprimidas, mais novos ou mais velhos".
E sublinha "as duas atitudes conjugam-se, porque grandes atuações requerem fortes motivações – como a de Vicente, diácono e mártir. Não faltam os exemplos concretos de abnegação e serviço, em todas as frentes do combate à atual pandemia. É essa mesma entrega abnegada, por conhecida ou discreta que seja, que tem em si mesma a garantia da vitória".
Afirma ainda que "os nossos diáconos estão e estarão à altura do seu padroeiro. Lembramo-los também, com a estima que nos merecem pelo seu indispensável ministério. Sem esquecer tantas pessoas que, na nossa cidade e diocese, em serviços públicos ou outros, respondem hoje com tanto esforço e generosidade à crise pandémica que sofremos. Também neles podemos verificar a presença e a ação do mesmo Espírito que de Cristo passou a Vicente e, com Vicente, se expande e atua".
A homilia pode ser lida aqui.