O centro histórico de Serpa conta, a partir do próximo sábado, com um novo espaço. Trata-se do Museu do Cante que abre as portas ao público, após uma cerimónia que está marcada para a Alcárcova do Castelo da cidade alentejana.
O novo museu, dedicado exclusivamente ao cante alentejano, nasce “em dois imóveis adquiridos pela autarquia, adjacentes ao edifício já existente”, revela a Câmara de Serpa, no convite endereçado à Renascença.
“Dotado de um inovador espaço expositivo e interativo, o Centro Interpretativo do Cante junta-se às valências já existentes, nomeadamente o Centro Documental Manuel Dias Nunes, a galeria de exposições, a loja e o auditório”, transformando o novo equipamento cultural no tão aguardado Museu do Cante.
“Encaramos esta iniciativa como sendo um regresso a uma certa normalidade, para incentivarmos o retomar do cante e o apoio aos cantadores”, explica o presidente do município, Tomé Pires.
O autarca, juntamente com Paulo Lima, um dos responsáveis pela candidatura do Cante a Património Cultural Imaterial da Humanidade e a diretora Regional de Cultura do Alentejo (DRCA), Ana Paula Amendoeira, são os intervenientes na cerimónia de abertura, condicionada por causa da pandemia, mas que pretende ser uma festa para o concelho e para a região.
“Acreditamos que vai ser momento especial, de energia positiva, que vai dar mais animo às nossas gentes e vai ser motivador para os nossos grupos corais que, entre avanços e recuos, também sofreram com esta pandemia”, acrescenta, Tomé Pires.
A inauguração, com inicio agendado para as 19h00 de sábado, compreende uma visita ao Museu do Cante, com a abertura da exposição "Fotógrafos do Cante".
Quem visitar o novo espaço vai poder aceder a diferentes conteúdos, “entre fotos e muito da história do Cante, em suportes físico e digital”, declara o autarca, que anuncia uma outra novidade.
“Um dos pontos altos deste museu é que os visitantes vão poder sentir-se no meio dos cantadores e, eles próprios, terem a experiência de cantar, podendo ficar com esse registo como recordação”, adianta.
Para o efeito, o espaço dispõe, segundo Tomé Pires, da “box do cante”, ou seja, “uma espécie de caixa”, onde os visitantes “vão poder viver, na primeira pessoa, uma experiencia única”, já a partir de dia 15 de agosto.
Refira-se que construção do novo equipamento, cujo projeto de museografia tem a parceria da DRCA, representa um investimento na ordem dos 335 mil euros, com o apoio dos fundos comunitários.
Há seis anos que o cante é da Humanidade
O canto coletivo, sem instrumentos, típico do Alentejo foi classificado, em 2014, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
"Historicamente, nenhuma informação documental parece provar a existência de canto coral sem instrumentos no Baixo Alentejo antes de 1907", quando foi formado o Orfeão Popular de Serpa, tendo começado “a surgir grupos corais como existem na atualidade”, lê-se no documento que serviu de base à candidatura do Cante Alentejano, numa iniciativa, recorde-se, da Câmara Municipal de Serpa e da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Na sua génese, o cante era sobretudo interpretado por classes trabalhadoras, “consideradas rurais e camponesas no passado, mas que eram proto-industriais ou industriais, porque trabalhavam na agricultura com máquinas ou em explorações mineiras”, como a de Aljustrel, “onde foi criado o primeiro grupo coral, "Os mineiros de Aljustrel", em 1926.”
Antes de ser Património da Humanidade, o cante alentejano tinha sido classificado como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal, por unanimidade, pela Assembleia Municipal de Serpa.
No concelho existem vários grupos corais, femininos e masculinos. O município tem também em curso um projeto denominado "O Cante nas Escola", com o objetivo de sensibilizar os mais jovens para este “traço” tão relevante que carateriza a cultura alentejana.
Começou no ano letivo 2008/2009, em parceria com o Agrupamento de Escolas de Serpa e, nos últimos anos, estendeu-se a todas as freguesias, abrangendo já cerca de três centenas de alunos.