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O virologista Pedro Simas considera ser necessário mais tempo para estudar a variante detetada no Brasil do novo coronavírus e entende que países que enfrentam situações graves da pandemia limitem as entradas e saídas nos seus territórios.
“Não é preciso entrar em pânico, não há aqui nada de muito novo, mas eu percebo que, nos países que estão com problemas [com a pandemia], faça parte dos confinamentos limitar também as entradas e saídas”, afirmou à Lusa o especialista, no dia em que o Governo britânico anunciou que vai suspender ligações aéreas de Portugal para Inglaterra para tentar impedir a entrada da estirpe brasileira do SARS-CoV-2.
Segundo o especialista, em princípio, esta nova variante, que ainda não foi detetada em Portugal, “não é mais perigosa em termos de capacidade de produção da doença”, sendo necessário “aferir se ela se dissemina melhor”.
A estirpe brasileira do novo coronavírus não foi detetada em Portugal, garantiu à Lusa o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que tem a decorrer desde março um estudo sobre as variantes do SARS-CoV-2.
“É bom ter alguma cautela e tempo para estudar essa variante do Brasil para ver se o impacto que esta mutação tem melhora a disseminação”, salientou Pedro Simas, para quem está provado que os “confinamentos funcionam, independentemente das variantes” do vírus.
Mutação do Brasil tão contagiosa como a do Reino Unido
Para Felipe Naveca, investigador do Instituto Leônidas e Maria Deane, a mutação do novo coronavírus detetada recentemente no Japão e originária da Amazónia brasileira pode ser tão contagiosa como as do Reino Unido ou da África do Sul.
Este especialista, que realiza pesquisas em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), considera provável que esta nova mutação, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) qualificou de "muito preocupante", já se tenha espalhado noutras regiões do Brasil.
A mutação surgiu na Amazónia, onde se registou um aumento exponencial de internamentos motivados pela Covid-19, sobretudo em Manaus, a capital do estado brasileiro do Amazonas.
"Comparamos as amostras e vimos que as que foram coletadas na Amazónia eram ancestrais daquelas que foram vistas no Japão, mas estas haviam sofrido muitas mais mutações. Estamos em processo de conclusão do sequenciamento para confirmar que essas mutações detetadas no Japão estavam realmente presentes antes na Amazónia, mas é muito provável", disse o investigador, citado pela agência France-Presse.
"Estamos a investigar se essa variante é predominante no estado do Amazonas. A análise das amostras de novembro mostra que estaria presente em 50% dos casos da Covid-19 neste estado. Quando terminarmos o sequenciamento em dezembro, essa proporção deve aumentar", acrescentou.
Felipe Naveca lembrou que não é certo ainda, mas é muito possível, que a mutação brasileira seja tão contagiosa quanto as registadas no Reino Unido e na África do Sul porque "observamos muitas mutações na proteína Spike [usada pelo SARS-CoV-2 para penetrar nas células], que já foi associada a esse maior potencial de transmissão do vírus".