A partir de quinta-feira, as temperaturas voltam a aumentar e o risco de incêndio voltará a ser elevado, sobretudo no interior e no Algarve. À Renascença, o climatologista Carlos da Câmara diz que “não é altura para os bombeiros, nem as populações baixarem a guarda”.
“Vem aí novo calor e é importante perceber que a vaga de calor que nos assolou nos últimos dias está integrada num sistema de muito maiores dimensões, que acabou por afetar Espanha, França e o Reino Unido que registou temperaturas recorde”, diz Carlos da Câmara.
Esclarecendo que não é razão para dramatizar, avança que, a partir do dia 21 de julho, as temperaturas nas zonas do interior do país e do Algarve vão voltar a subir e os níveis de humidade vão baixar, fazendo com que o perigo meteorológico de incêndio aumente.
O climatologista refere que as zonas de Covilhã, Guarda e Algarve estarão em maior perigo já a partir de quinta-feira, com o risco de incêndio a ser elevado em todo o interior do país a partir do fim de semana.
O incêndio em Murça, no distrito de Vila Real, onde já morreram duas pessoas, teve início no domingo e continua a ser o mais preocupante no país neste momento. Segundo a página da Proteção Civil, pelas 17h30, estavam no local 808 operacionais, apoiados por 270 meios terrestres e sete meios aéreos.
Diagnóstico está feito, mas falta resolver problema estrutural
Nos últimos dias, o primeiro-ministro, António Costa, referiu-se aos incêndios como um problema estrutural, num país com uma grande mancha florestal que está abandonada.
O diagnóstico existe há muito, desde pelo menos 2003, segundo diz à Renascença o professor Francisco Rego. Está a falhar a concretização para tomar “decisões conjunturais”, como a contratualização da alteração de paisagem com proprietários florestais e agrupamentos de baldios, sublinha o antigo presidente do Observatório Técnico Independente dos Incêndios.
“Quando houve projetos de interesse nacional, ainda na altura do primeiro Governo de José Sócrates, houve a indicação de que existiam 700 milhões de euros para fazer o cadastro da situação. Uns meses depois, a indicação passou a ser de que haviam 70 milhões de euros. Um ano depois, havia sete milhões de euros. Finalmente encomendou-se um estudo para se perceber como é que se poderia fazer o cadastro sem gastar dinheiro do erário público”, afirma o antigo presidente do Observatório Técnico Independente dos Incêndios, criado pelo Parlamento.
Para Francisco Rego, os milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) podem ajudar a dar uma resposta “musculada”.
O Governo ainda está a tempo de resolver este problema estrutural, diz o especialista, apontando à estratégia definida e reapreciada em 2015, e que tem sido “esquecida” pelos últimos governos.