O antigo comandante das Forças Terrestres (CTF) António Faria Meneses defendeu, no Parlamento, que o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) e o ministro da Defesa deveriam ter-se demitido após o furto de Tancos.
"Perante o cenário, só havia uma saída possível que era a demissão do CEME e do ministro da Defesa", afirmou o general, que se afastou e passou à reforma após o furto, durante uma audição na comissão parlamentar de inquérito a Tancos.
Para Faria Meneses, a exoneração, e posterior readmissão, pelo CEME, Rovisco Duarte, dos comandantes responsáveis pela segurança das instalações dos paióis nacionais de Tancos, foi "um ato inqualificável" e quebrou a "coesão" dos generais e militares com o general que chefiava o ramo.
Na audição, o tenente-general leu parte de um diário que anotou naqueles dias seguintes ao furto, uma espécie de "fita do tempo", e com base no qual relatou conversas com Rovisco Duarte.
Segundo disse, o ex-CEME comunicou-lhe da decisão de exonerar os cinco comandantes porque estava a ser sujeito a muitas pressões, que não identificou.
"A pressão é muita, temos de fazer alguma coisa", afirmou Faria Meneses, descrevendo o que Rovisco Duarte lhe disse numa conversa telefónica, no dia em que o então CEME anunciou a demissão dos cinco comandantes e da qual o ex-CFT discordava.
O caso do furto de material militar em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017, tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.