A União Europeia tem de encontrar um equilíbrio entre combate às alterações climáticas e competitividade económica em relação a outros blocos, como a China ou os Estados Unidos, defendem Francisco Assis e Paulo Rangel no programa “Casa Comum” desta semana.
As questões climáticas, juntamente com a aposta no digital, são prioridades da nova Comissão Europeia, liderada pela alemã Ursula Von der Leyen.
Francisco Assis alinha pela causa das alterações climáticas, mas alerta: “não podemos cair numa espécie de fundamentalismo infantil”.
O comentador socialista reconhece que, infelizmente, “uma parte dos políticos europeus aderem a modas e sentem-se pressionado por setores extremistas da opinião publicada”.
“Há coisas que aparentemente à superfície parecem muito boas, mas têm mais inconvenientes do que vantagens. Por exemplo, questões que possam conduzir para uma redução drástica da economia europeia. Não podemos alinhar com soluções que signifiquem na prática uma destruição do tecido económico europeu. Há casos em que nós, no limite, ficaríamos de tal maneira numa situação de inferioridade em termos de competitividade com outras zonas e não podemos impor as outras zonas, autoritariamente, as nossas posições.”
Francisco Assis defende que, em nome do combate à poluição, a Europa não aplicar taxas de maneira indiscriminada nem carregar as classes desfavorecidas com os chamados “impostos verdes”.
Dá o exemplo da contestação do último ano em França, que começou por causa de uma taxa ambiental sobre o gasóleo. “A questão dos coletes amarelos tem muito que ver com alguma incapacidade de perceber que estas taxas, impostos, esta fiscalidade verde também tem que ter em consideração aspetos sociais”, sublinha.
O social-democrata Paulo Rangel considera que a União Europeia (UE) “tem feito um trabalho muito meritório” em matéria ambiental e destaca a aposta na transição de economias baseadas no carvão, como é o caso de algumas regiões da Alemanha e Polónia, para a neutralidade carbónica.
O eurodeputado afirma que a Europa “tem de ter papel liderante”, mas não pode avançar sozinha em algumas medidas porque vai perder competitividade e ficará prejudicada em relação aos outros concorrentes. Dá o exemplo do plano para taxar a aviação extra-europeia, medida que só faria sentido com um consenso mundial, defende.
Pedras no caminho do orçamento e reforma da Zona Euro
O Orçamento da UE e a reforma da zona euro são dois grandes desafios da nova presidente da Comissão Europeia.
Paulo Rangel considera que o “entusiasmo” da presidente da Comissão Europeia ao falar de alterações climáticas, aposta no digital e na questão dos migrantes foi “muito forte”, mas na área económica “não estava com o mesmo entusiasmo”.
O eurodeputado do PSD aplaude a possibilidade de a Alemanha apoiar a união bancária, mas não está “tão otimista” em relação a um orçamento da zona euro. “É um instrumento um pouco perverso, não vai fomentar a convergência, porque dá mais dinheiro para a Alemanha do que para outro país”, argumenta.
Francisco Assis confessa o seu pessimismo. Diz que ainda há um “longo caminho a percorrer” até haver uma união bancária. Em relação ao orçamento da zona euro, “são muitas muitas as divergências que ainda subsiste”, frisa.
“Livre escolheu uma candidata para ter um resultado e agora tem de pagar o preço”
As divergências públicas entre o Livre e a sua deputada Joacine Katar Moreira estiveram em análise no “Casa Comum” desta semana.
Paulo Rangel considera que estamos perante um “espetáculo triste”, que diz muito “sobre a forma como o Livre quis escolher uma candidata para ter um resultado e agora tem de pagar o preço, porque a candidata tem uma legitimidade própria”.
“Foi muito centrada no facto de ter origem africana, que até não é nenhuma inovação no Parlamento, a circunstância de ter gaguez e de poder representar pessoas com alguma dificuldade, a verdade é que isso depois tem um preço. Tem havido um protagonismo exagerado. O Livre não tem uma agenda. Queria fazer um bocadinho política espetáculo e a política não deve ser espetáculo.”
Paulo Rangel lamenta o episódio em que Joacine Katar Moreira chamou um segurança para não falar com os jornalistas no Parlamento.
“São todos a favor da liberdade de expressão e de imprensa, e faz-se acompanhar de um segurança para não falar com os jornalistas? Se isso acontecesse com o PSD, o CDS ou até agora com o Chega, radical…”, diz o eurodeputado.
Em relação ao momento conturbado no Livre, o socialista Francisco Assis aponta a “inexperiência natural” da deputada e responsabilidades ao partido.
“Provavelmente, o Livre não teria deputado nenhum senão tivesse feito uma aposta nesta deputada. Só com esta opção é que conseguiu chegar ao Parlamento. Tem que haver algum bom senso de parte a parte. Temos assistido a situações que em nada dignificam até o próprio prestígio do Parlamento”, sublinha Francisco Assis.
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