Faltam professores - e os que há estão cada vez mais envelhecidos. Faltam computadores e competências digitais. E falta cativar os jovens a quem a escola "à antiga" já não basta. Custa-nos acreditar que o ensino à distância pode vir a ser uma solução eficaz para os sistemas educativos portugueses, quando a imagem com que ficámos desta pandemia está associada aos efeitos negativos do ensino remoto na aprendizagem dos alunos. Mas será que aquilo a que assistimos é a verdadeira definição de "ensino à distância"? Ou tudo não passou de uma "solução de remendo"?
O alerta é deixado no episódio do Geração Z desta quarta-feira por Diogo Casanova, vice-reitor para a Inovação e Qualidade da Universidade Aberta, a única instituição de ensino superior público à distância em Portugal.
"É importante esclarecer que aquilo que os alunos tiveram durante a pandemia não foi o ensino à distância, foi aquilo que designamos como ensino remoto de emergência, que foi tudo menos aquilo que nós advogamos para um ensino à distância de qualidade. O ensino à distância promove a existência da flexibilidade de espaço e de tempo: podermos aprender ao nosso ritmo, quando queremos, quando podemos e onde queremos, sem termos de gastar dinheiro em rendas, ficar junto da nossa família e, muitas vezes, adaptado ao nosso contexto laboral."
Diogo Casanova admite que nem todos os alunos, como os do ensino básico ou secundário, possam ter "maturidade suficiente" para o ensino à distância e que "a presença de um professor é fundamental", mas acredita que em algumas disciplinas até poderia fazer sentido implementar o ensino remoto.
No oitavo episódio do Geração Z lançamos algumas questões para cima da mesa: será uma questão de tempo até o ensino à distância começar a ser cada vez mais utilizado em Portugal? Digitalizar as escolas não passará por muito mais do que comprar computadores com fundos europeus? Formar professores para o uso de ferramentas digitais tem de ser uma prioridade do governo? Como é que podemos interessar e entusiasmar os nossos alunos? - esta ainda parece ser uma das questões mais difíceis, admite Diogo Casanova.
"Os alunos desligam-se em casa, mas também se desligam quando estão numa sala de aula. As minhas filhas quando estão a navegar na internet e a saltar do TikTok para o Instagram, veem os conteúdos em 15 segundos. É o máximo de atenção que dedicam a determinado conteúdo. Portanto, a aprendizagem tem de se alterar bastante e adaptar-se a este tipo de realidade. Se continuarmos a ensinar da forma como aprendemos há 30, 40 anos, dificilmente nos vamos adaptar à forma como os estudantes aprendem. É um exercício que temos de fazer não só no ensino à distância, mas também no ensino presencial."
Neste episódio, saberemos ainda que fundos europeus têm sido mobilizados para apoiar a transformação digital das escolas portuguesas, não esquecendo que uma das consequências incontornáveis que têm sido apontadas em estudos científicos dizem respeito aos alunos mais desfavorecidos que, muitas vezes, não têm equipamentos ou ligações à internet e que acabam por ter pior aproveitamento escolar.
"O facto de existirem alunos que ainda não têm computadores é um obstáculo para o ensino à distância, mas fundamentalmente para a educação das crianças. Se nós estamos a barrar o acesso de muitas crianças ao poço de conhecimento que é a internet, estamos a colocá-las automaticamente em desvantagem. Garantir que todas as crianças tenham acesso à internet torna-se uma das ferramentas mais relevantes para democratização do acesso à educação e ao conhecimento", defende Diogo Casanova.