Em vésperas de Portugal entrar na terceira fase de desconfinamento, o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública admite que algumas das restrições aliviadas poderão ter de voltar a ser implementadas.
“Tudo dependerá do que acontecer nos próximos dias”, afirma Ricardo Mexia na Renascença.
“Julgo que as pessoas tiveram mensagens conflituantes e entenderam que a situação estava ultrapassada, mas não está”, sublinha. “Há pessoas que baixaram a guarda”, mas continuamos a ter de “manter as distâncias, mesmo com máscara”.
No programa As Três da Manhã – que nesta sexta-feira está numa emissão especial desconfinamento e homenagem a quem nunca deixou de trabalhar – o dirigente da Associação de Médicos de Saúde Pública admite que “todos gostaríamos de voltar a fazer o que fazíamos, mas tal não é possível ainda de uma forma massificada”.
“Cautela”, pede Ricardo Mexia. “Se é verdade que temos um programa para aliviar as medidas restritivas, também é verdade que esse programa está dependente da dinâmica de evolução da doença e, se for negativa, temos de abrandar o alívio e dar um passo atrás em algumas delas”.
Cerca sanitária em Lisboa e Vale do Tejo?
Ainda não. Tudo depende de como a situação evoluir, mas o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública explica que o cordão sanitário – “a expressão que gostamos de usar na comunidade médica”, e não “cerca”, que é “uma expressão da Proteção Civil – é aplicado quando não se conhece a cadeia de transmissão. E não é o caso.
“Se estes casos surgem numa comunidade sem sabermos as cadeias de transmissão, pode fazer sentido; se houver uma ideia sobre as vias de transmissão, é agir sobre essas vias. Tudo depende dos dados que temos sobre os casos”, esclarece, acrescentando que as autoridades já estão a intervir.
A região de Lisboa e Vale do Tejo é a que mais preocupa neste momento, pois é onde estão a surgir mais casos de Covid-19. Na quinta-feira, depois de uma reunião com especialistas no Infarmed, o Presidente da República garantiu que a situação não está descontrolada e que as autoridades conhecem as cadeias de transmissão, estando a agir sobre elas.
Nesta sexta-feira de manhã, na emissão especial da Renascença, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a referir que não existe descontrolo em Lisboa.
Ricardo Mexia concorda. “Só se não intervirmos é que se pode descontrolar”, afirma. “O importante é que, perante novos casos, haja recursos para intervir”, acrescenta.
O responsável não se mostra surpreendido com a existência de mais casos de infeção pelo novo coronavírus. Face ao desconfinamento, “era expectável”, diz na Renascença, numa entrevista em direto, feita por telefone.
“Quando reduzimos as medidas de restrição, sabíamos que iria aumentar o número de casos. Não aconteceu noutras regiões, aconteceu aqui [em Lisboa e Vale do Tejo], e vamos ter de intervir, mas era expectável”, afirma.
O que as autoridades querem evitar é que se atinja “o aumento exponencial do primeiro embate”.
“Agora, vamos intervir na região de Lisboa e Vale do Tejo, para que não tenhamos mais casos”, sendo que “o que fizermos hoje tem impactos daqui a 10 dias”, destaca o especialista.
“Agora, vamos intervir na região de Lisboa e Vale do Tejo, para que não tenhamos mais casos”, sendo que “o que fizermos hoje tem impactos daqui a 10 dias”, destaca Ricardo Mexia.
Nesta emissão especial da Renascença para falar do “novo normal” e homenagear os que nunca pararam de trabalhar, o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública respondeu a dúvidas colocadas pelos ouvintes – respostas que pode ler aqui.