O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, condenou, esta segunda-feira, o processo eleitoral na Rússia e reiterou a necessidade de apoio à Ucrânia. O chefe da diplomacia portuguesa revelou que está aprovado um novo apoio de cinco mil milhões de euros a Kiev e garantiu que este não será a última ajuda enviada através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz.
“A União Europeia não reconhece estas eleições como livres e justas, porque manifestamente não o foram”, disse Gomes Cravinho, aos jornalistas, à margem da reunião em Bruxelas com os ministros dos Negócios Estrangeiros, salientando que esta é a posição dos 27 em relação às eleições na Rússia.
"Há um aspeto acrescentado de ilegalidade nas províncias ucranianas onde as autoridades russas ocupantes realizaram eleições e não faz sentido reconhecer essas eleições, e o mesmo se aplica à Transnístria e as regiões ocupadas da Geórgia", justificou.
"Não devemos dignificar este acontecimento com o nome de eleições. Eleições [como] nós conhecemos, aconteceram em Portugal a 10 de março, acontecem nos países democráticos. O que aconteceu na Rússia não tem dignidade para merecer esse nome. É um paradoxo que as ditaduras sentem necessidade de procurar legitimar-se internacionalmente e internamente através de exercícios 'fársicos' que procuram simular uma eleição mas que não têm nenhum tipo de credibilidade", defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Questionado sobre se Putin sai fortalecido desta eleição, Gomes Cravinho recusou, salientando que talvez tal tivesse ocorrido se o Presidente russo se tivesse mostrado "capaz de se debater de igual para igual com pessoas como Navalny". "Agora, um ditador que precisa de eliminar os seus rivais para ganhar eleições não creio que possa ser considerado que saia mais forte", disse.
Gomes Cravinho salientou ainda a necessidade de apoiar a Ucrânia, através do reforço do apoio militar, "nomeadamente em munições" e destacou a aquisição conjunta de Portugal com a República Checa, no montante de 100 milhões de euros de munições.
"O que posso dizer é que, ao longo de dois anos nestas funções, assisti a uma grande intensificação da preocupação, no sentido de urgência, em relação ao apoio que precisamos de dar à Ucrânia e isso esteve muito patente na reunião de hoje, a começar pela interação com Antony Blinken, secretário de Estado Adjunto dos EUA, e passando também, naturalmente, pela discussão com o ministro dos negócios estrangeiros da Ucrânia", disse o ministro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros explicou ainda que estão a ser debatidas novas sanções, incluindo a 30 indivíduos relacionados com a morte de Navalny.
"Também se falou de outros aspectos relacionados com essa temática, nomeadamente a possibilidade de mais sanções ao Irão, relacionado com o fornecimento de mísseis à Rússia e estabeleceu-se a necessidade de sancionar 30 indivíduos e duas entidades relacionadas diretamente com a morte de Navalny", afirmou.
Na reunião, foram ainda debatidos temas relacionados com o Médio Oriente, nomeadamente a situação em Gaza, mas sem avanços.
"Em relação ao Médio Oriente, outro grande tema, assistimos a uma intensificação da preocupação face à situação humanitária em Gaza, mas, infelizmente, com pouco movimento em relação àquilo que todos sabemos que é necessário – no sentido do alivio à população, do cessar-fogo e de progresso a caminho da solução de dois Estados", disse Cravinho.