O economista e antigo ministro Augusto Mateus defende que o turismo tem que ganhar o apoio do país, mas para isso tem que lhe dar algo em troca: “não podemos continuar a ter os portugueses a ver o turismo como um obstáculo à sua vida”.
Esta foi uma das ideias lançadas pelo economista esta sexta-feira no 45.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que decorre até 17 de novembro, no Funchal.
Augusto Mateus frisou também que é preciso aproveitar a oportunidade, agora que o setor está em alta, para transformar vantagens comparativas em vantagens competitivas, apostar em novos mercados e estar muito atento às tendências e à procura.
Ficou também um recado claro: O digital, a sustentabilidade ambiental, a mobilidade e a segurança são pontos para levar muito a sério: sem eles não há Turismo.
Turismo pode conseguir consensos, se retribuir
É preciso pôr cada vez mais gente de acordo com o turismo e a trabalhar para o turismo e, por outro lado, pôr o turismo a entregar cada vez mais aos portugueses. Estas são duas dimensões da estratégia para o futuro do setor, que, na opinião de Augusto Mateus, consegue gerar consensos como nenhuma outra questão, nomeadamente “o futebol ou a política”.
Mateus considera que pode haver uma convergência muito significativa que será tanto maior quanto mais o turismo entregar aos portugueses em termos de oportunidades, desenvolvimento territorial, qualidade de vida. “Quanto mais o turismo for percebido pelos portugueses como alavanca da economia, mas também da melhoria da qualidade de vida – não pode ser o contrário, ser visto como um obstáculo à melhoria da qualidade de vida das pessoas de Lisboa, Porto, Funchal, Funchal, etc. Tem que ser o contrário. Este é um elemento-chave da estratégia”, frisou.
A Primavera Árabe foi a grande responsável pela queda no turismo no Norte de África, “uma vantagem comparativa que Portugal aproveitou pela segurança que oferecia”. Este foi um dos exemplos citados por Augusto Mateus para explicar como as vantagens comparativas se podem transformar em competitivas.
Neste caso, fazer com que a segurança seja um fator que leva os turistas a pensar em Portugal não apenas em determinada altura, em comparação com outros países. Mas porque essa é uma característica estrutural.
Além disso, o alargamento dessas vantagens competitivas, nomeadamente a nível cultural e de património, na área digital, nas preocupações ambientais e de sustentabilidade, responsabilidade social, que são fundamentais na atração de turistas de novos mercados. “Não somos ainda suficientemente bons nisto”, declarou.
Um terceiro elemento passa pelo alargamento, “mas com cabeça”, do território do turismo e os fatores distintivos dos diversos territórios. No entanto, Augusto Mateus frisa que é preciso “não cometer loucuras, não prometer às pessoas o que não é possível e ter em conta que nem todos os territórios têm aptidão turística. “Nem toda a gente que fica sem emprego deve abrir um restaurante”, argumentou.
Por outro lado, é preciso pensar que o turismo é feito por um conglomerado de atividades “ou não haverá desenvolvimento sério do setor”.
Finalmente, o antigo ministro considera que é preciso dotar os destinos dos meios para acompanhar de forma dinâmica as tendências globais da procura. Sobretudo no que diz respeito à digitalização, sustentabilidade ambiental, património e cultura e segurança.
Portugal cada vez mais atrativo
Na sua intervenção, Augusto Mateus subestimou os rankings (quais são os mercados que mais procuram Portugal) e propôs antes a análise de como os turistas de alguns desses países escolhem o destino. “Dizem-nos quantos britânicos vêm a Portugal, mas normalmente não sabemos a percentagem de britânicos que viaja e que escolhe Portugal para passar férias”.
Segundo o economista, o Reino Unido põe o nosso país em 4º lugar, mas para os franceses e alemães estamos no topo. “São mercados de proximidade, mas num futuro muito próximo, os mercados americano, asiático e da Austrália vão ser decisivos e temos que dar o salto qualitativo”, fixou.