Cessar-fogo no Líbano: “Israel está numa posição favorável para negociar”
26-11-2024 - 01:06
 • Marisa Gonçalves

Ricardo Ferreira Reis, especialista em assuntos internacionais, defende que uma trégua no conflito é também do interesse dos Estados Unidos.

O Gabinete de Segurança de Israel deve reunir, esta terça-feira, em Telavive, com o objetivo de discutir a proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo com a milícia xiita Hezbollah, no Líbano, já depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter estado reunido com alguns ministros e responsáveis pela segurança do país.

Em declarações à Renascença, Ricardo Ferreira Reis, especialista em assuntos internacionais, considera que esta é uma boa ocasião para Israel negociar, dado que tem grande parte dos objetivos alcançados.

“Israel tem tido uma posição bastante bem-sucedida, no Líbano, na eliminação dos líderes do Hezbollah e, portanto, está numa situação agora muito favorável do ponto de vista negocial. Depois, há a perspetiva do próprio Hezbollah que ficou dizimado. Cada líder potencial já estava a ser arrumado praticamente na origem do pensamento de vir a ser um líder do Hezbollah. Parece-me também que não haverá grandes hipóteses no Hezbollah, senão negociar”, aponta.

Por outro lado, o também diretor do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica adianta que a administração Biden, que estará de saída da Casa Branca em janeiro, também tem interesse em que seja dada luz verde a uma trégua neste conflito.

“Joe Biden vai querer deixar um legado nestes próximos meses, antes da tomada de posse de Donald Trump, até para tirar um pouco do vapor do que possa acontecer a seguir com uma eventual pacificação quer no Médio Oriente, quer na Europa. Biden poderá dizer que esta tendência para a paz já vinha de trás e que já não é uma coisa alcançada apenas pela Presidência e pela administração Trump”, sublinha.

Quanto ao Irão, que apoia o grupo xiita libanês, Ricardo Ferreira Reis diz que o regime de Teerão vai ficar “desiludido” com um acordo de paz e antecipa que as atenções e Israel vão virar-se para aquele país.

“Ao Irão é conveniente uma escalada da situação, até para poder exercer a sua autoridade geopolítica na região, enquanto fação libertadora daquelas populações. Isso continuará, seguramente. Portanto, não antecipo que [este acordo] vá fazer mudar radicalmente aquilo que acontece no Irão, mas vai permitir a Israel deixar de se concentrar nos ataques ao Hezbollah e passar a atacar diretamente o Irão. Os operacionais de ligação ao Hezbollah que estiverem em Teerão, deverão estar um pouco mais preocupados agora do que estariam antes deste acordo de paz”, acrescenta.

O rascunho da proposta em análise inclui um período de 60 dias durante o qual o exército israelita se retirará do sul do Líbano, prevê que as forças militares do Líbano fiquem colocadas na fronteira e que o movimento xiita pró-iraniano Hezbollah recue para além do rio Litani, considerado um importante recurso de água no sul do Líbano.