​Um desastre provável
15-12-2017 - 06:42

A CGTP quer mandar nas relações laborais da Autoeuropa. Por muito que isso custe à empresa, aos trabalhadores e aos fornecedores.

Hoje o ministro Vieira da Silva recebe a administração da Autoeuropa e a Comissão de Trabalhadores (CT) desta empresa. A finalidade do encontro é, como se sabe, tentar ultrapassar o conflito sobre os horários de trabalho, que já levou à rejeição pelo plenário de trabalhadores de dois pré-acordos negociados pela anterior, um, e pela presente CT, outro. Agora, a administração avançou unilateralmente com um horário, contra o qual já se pronunciou a CT.

Seria excelente para a economia portuguesa que a paz social voltasse à Autoeuropa, como aconteceu durante os vinte anos em que a CT foi liderada por António Chora, um homem do Bloco de Esquerda. Mas parece-me, infelizmente, pouco provável que tal venha a acontecer.

Chora reformou-se em Janeiro. O que abriu uma oportunidade à CGTP, ou seja, ao PCP, para finalmente passar a dominar as relações laborais na Autoeuropa. A central sindical comunista detesta comissões de trabalhadores e quer, através dos seus sindicatos, monopolizar as negociações com a administração. É o célebre “centralismo democrático” de que falava Lenine, mas que de democrático nada tinha nem tem.

Acontece que o grupo VW, por princípio, negoceia com CTs, não com sindicatos. E que já falta pouco para a VW perder a paciência com a situação na fábrica de Palmela e desvie a produção do modelo que ali começou a ser produzido para outro lado qualquer.

Pode nem ser uma deslocalização para outro país europeu. Há dias Marrocos assinou uma convenção com fabricantes do sector automóvel francês, nomeadamente Renault e Peugeot Citroen, prevendo a criação em território marroquino de 26 empresas de equipamentos e material para o sector automóvel. Por outro lado, a China irá instalar perto de Tânger uma fábrica de carros movidos a electricidade. Marrocos tornou-se no primeiro produtor automóvel da região do Médio Oriente/África do Norte.

Se a VW sair de Palmela, ou se reduzir significativamente a sua produção em Portugal, não será um desastre apenas para quem ali trabalha. Serão prejudicadas dezenas de empresas de menor dimensão que cresceram fornecendo material à Autoeuropa, algumas das quais já exportam.

Mas um desfecho deste tipo visivelmente não preocupa a CGTP. Os comunistas trabalham a longo prazo para a destruição do capitalismo; o resto, são para eles incidentes de percurso.