O Primeiro-ministro diz que o acordo alcançado na cimeira do clima ficou-se pelos mínimos. Neste contexto, António Costa que falava, esta manhã, no encontro que assinala o primeiro aniversário da CNN Portugal, defendeu que é preciso acelerar a transição energética, lamentando que a COP 27 não tenha ido mais longa.
Ainda assim, entende que foi positivo ter-se ultrapassado o impasse que ameaçou o resultado desta cimeira.
“É relativamente animador não ter concluído a COP 27 num bloqueio”, disse Costa, lamentando ser “relativamente desanimador que o acordo se tenha feito em mínimos, quando neste momento o que precisamos de fazer é em máximos”.
“Nós temos mesmo que acelerar esta transição”, defendeu o Primeiro-ministro, argumentando com os efeitos que a guerra na Ucrânia está a provocar em todo o mundo.
“Aquilo que esta guerra demonstrou é que a dependência relativamente a fontes de energia, que são produzidas no exterior, sejam elas onde forem produzidas, são um enorme risco à segurança, à independência de cada um dos estados”, sinalizou.
UE não tem condições para cumprir expectativas que cria sobre alargamento
Na abertura da conferência da CNN/Portugal, o primeiro-ministro afirmou ainda que a União Europeia, nas atuais condições institucionais e orçamentais, não tem capacidade para cumprir as expectativas de alargamento e advertiu que o efeito de ricochete de falsas promessas pode ter consequências dramáticas.
Depois de defender a reforma das Nações Unidas, com o alargamento do Conselho de Segurança e o fim do direito de veto de nações em causa própria, o líder do executivo referiu-se de forma desenvolvida à atual conjuntura de guerra na Ucrânia.
"Esta crise colocou no centro do debate a questão do alargamento - e colocou-a de uma forma dramática relativamente à Ucrânia, mas, por arrastamento, também relativamente às múltiplas promessas que ao longo dos anos foram sendo feitas pela União Europeia, criando expectativas, designadamente nos países do Balcãs Ocidentais. Ora, a União Europeia tem critérios muito claros para a adesão dos novos Estados-membros, mas, infelizmente, não tem critérios para a sua própria capacidade para acolher novos Estados-membros", apontou.
Neste contexto, o primeiro-ministro transmitiu a sua posição de princípio: "Sejamos claros, com a atual estrutura institucional, com a atual arquitetura orçamental, a União Europeia não tem condições para cumprir as expectativas que agora está a criar".
Jornalismo tem de evitar o que acontece a partidos da direita democrática
O jornalismo profissional tem de diferenciar-se da infodemia que caracteriza as redes sociais e evitar o que acontece a partidos da direita democrática que se confundem com a direita populista, advertiu o primeiro-ministro.
Neste contexto, o líder do executivo alertou para o principal risco resultante da desregulação dos mercados que se coloca ao jornalismo profissional, caso, por opção de concorrência, se indiferencie do fenómeno da infodemia que “corre nas redes sociais”.
“Quando o jornalismo começa por imitar acaba por legitimar o que é falso [fake]. Nessa altura, o que devia ser o original passa a ser o falso do falso [o fake do fake] e perde o seu elemento diferenciador”, disse.
Mas António Costa foi mais longe e estabeleceu depois um paralelismo com a evolução das correntes políticas nas sociedades ocidentais.
“O que acontece na política a muitos partidos da direita democrática face à direita populista é o que não pode acontecer no jornalismo sob pena da democracia perder um dos seus principais alimentos, que é a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”, declarou.
António Costa começou por dizer que “o mundo precisa do rigor e da deontologia do jornalismo profissional, aquele que permite distinguir a verdade da mentira; aquele que permite contextualizar evitando a generalização fácil; aquele que permite explicar o que é complexo, que assegura o pluralismo, o contraditório; e aquele que permite preservar a memória, possibilitando a comparação para se perceber o caminho que está a ser seguido”.
“Precisamos de uma cidadania informada como vacina contra os populismos. E só o jornalismo informado garante essa cidadania informada. No mundo em que vivemos, como alguns designam em situação de infodemia, o jornalismo é o verdadeiro teste de PCR entre aquilo a verdade e a mentira”, concluiu o primeiro-ministro.