O ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM) coronel Luís Vieira confirmou esta terça-feira ao juiz Carlos Alexandre que deu instruções para a recuperação das armas furtadas em Tancos, desconhecendo a existência de uma encenação, segundo fonte judicial.
O arguido no caso de Tancos começou esta manhã a ser ouvido na fase de instrução do processo, que até aqui estava a decorrer no Tribunal Central de Instrução Criminal, mas desde hoje decorre no Tribunal de Monsanto.
O juiz Carlos Alexandre tinha agendado a manhã de terça-feira para o interrogatório do coronel Luís Vieira, mas a diligência vai continuar a partir das 14h40.
Segundo fonte judicial, Luís Vieira confirmou ao juiz que, no exercício das suas funções, deu instruções para a recuperação das armas, mas que desconhecia a existência de uma encenação montada para as encontrar.
O ex-diretor da PJM assumiu também, segundo a fonte, que sabia da existência de um informador.
O Ministério Público (MP) acusou o coronel de associação criminosa, tráfico e mediação de armas, falsificação ou contrafação de documentos, denegação de justiça e prevaricação e favorecimento pessoal praticado por funcionário.
No requerimento de abertura de instrução do caso sobre o furto e recuperação de armas de Tancos, Luís Vieira alega que "não houve qualquer intenção de encobrir os autores nem houve qualquer pacto nesse sentido" e contrapõe dizendo que a acusação do MP é uma "narrativa ficcionada".
Alega ainda que em momento algum a sua conduta foi no sentido de criar obstáculos para impedir uma "resposta punitiva do Estado, impedindo ou frustrando a atividade probatória ou preventiva da autoridade competente".
O caso de Tancos envolve 23 acusados, incluindo Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa do primeiro Governo de António Costa e que se demitiu na sequência do caso, Luís Vieira, o ex-porta-voz da instituição militar Vasco Brazão e vários militares da GNR, que estão acusados de um conjunto de crimes que vão desde terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação até falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
O furto de armamento de guerra dos paióis de Tancos, Santarém, foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017, com a indicação de que ocorrera no dia anterior.
A recuperação de material furtado de Tancos ocorreu na região da Chamusca, também no distrito de Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.