Polícias em protesto cantam o hino de costas voltadas para o Parlamento
21-11-2019 - 17:21
 • João Pedro Barros *

Durante a concentração desta quinta-feira frente à Assembleia da República, as forças de segurança prometeram nova manifestação para dia 21 de janeiro se reivindicações não forem atendidas pelo novo Governo.

Milhares de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) e militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) manifestaram-se esta quinta-feira em Lisboa, exigindo aumentos salariais e o cumprimento de uma série de promessas feitas pelo Governo de António Costa na anterior legislatura.

A manifestação partiu do Marquês de Pombal em direção à Assembleia da República, onde centenas de elementos das forças de segurança cantaram o hino nacional de costas voltadas para o Parlamento, que estava cercado por agentes fardados em serviço e por autênticas barreiras formadas por carros colados uns aos outros.

Ao longo da tarde, o corpo de segurança esteve presente em força nas imediações da AR, impedindo o acesso ao edifício quer pela Calçada da Estrela, quer pela Rua de São Bento.

Por volta das 17h, André Ventura, deputado único do partido de extrema-direita Chega, juntou-se aos manifestantes. Envergando uma t-shirt do "Movimento Zero", com a qual já tinha assistido ao plenário da Assembleia da República, Ventura desceu à manifestação, discursou no sistema de som da organização e circulou entre os manifestantes sob fortes aplausos.

Ventura não foi o único deputado a passar pela manifestação, mas só ele teve direito a discurso pelos altifalantes, atraindo as atenções da maioria da comunicação social.

Logo a seguir, a maioria dos manifestantes dedicou uma salva de palmas aos colegas de serviço, que estão a garantir a segurança e a ordem no local.

"Zero! Zero!", em referência ao lema que deu o mote a este protesto, "Polícia unida jamais será vencida!" e "Cabrita, escuta, a polícia está na luta" foram alguns dos gritos de protesto ouvidos ao longo da tarde. As t-shirts brancas do chamado "Movimento Zero", que horas antes estavam à venda por um euro no Parque Eduardo VII, antes de o protesto arrancar para o Parlamento, eram nota forte entre os manifestantes.

Durante todo o protesto, o movimento inorgânico ligado à extrema-direita distribuiu panfletos entre os manifestantes, no qual exigia "respeito, dignidade e valorização".

"Os polícias nunca tiveram tanta razão para sair à rua como hoje", clamaram as organizações sindicais que convocaram o protesto. Entre as músicas escolhidas para animar o protesto contaram-se "Chamem a polícia", dos Trabalhadores do Comércio, e "Sexta-feira", de Boss AC.

Num comunicado divulgado pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e a Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), as forças de segurança prometem uma nova manifestação para dia 21 de janeiro caso as reivindicações da classe não sejam atendidas até lá.

Por volta das 18h, os manifestantes começaram a desmobilizar. Muitos vieram de outras partes do país para se juntarem ao protesto e tinham partida marcada para essa hora nos autocarros que os trouxeram até Lisboa.

Acompanhando a desmobilização, a maioria dos elementos do Corpo de Intervenção da PSP foi abandonando a escadaria do Parlamento, restando algumas dezenas de manifestantes no local.

Dali, um grupo deles, ligado ao "Movimento Zero", seguiu para o Terreiro do Paço, a fim de prestarem homenagem aos elementos da PSP que participaram na manifestação de 1989 que ficou conhecida como "secos e molhados", quando agentes de serviço usaram canhões de água contra os colegas em protesto.

Fonte da PSP disse à Renascença que alguns elementos das forças de segurança foram destacados para o local.


*editado por Joana Azevedo Viana