Justin Welby, Arcebispo de Cantuária, Primaz da Igreja de Inglaterra e líder espiritual da Comunhão Anglicana, veio a Portugal para a abertura do 100º Sínodo Diocesano da Igreja Lusitana (Confissão Portuguesa Anglicana). Este domingo deu uma entrevista à Renascença na paróquia da Sagrada Família, em Belas, com elogios ao Papa Francisco, mas também ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa, confidenciando que no breve encontro que tiveram falaram de Deus, de futebol e dos conflitos na Ucrânia e na Terra Santa.
Durante esta visita o Arcebispo de Cantuária reuniu-se, ainda, com líderes de outras confissões religiosas e visitou igrejas Anglicanas no distrito de Lisboa.
Veio a Portugal para a abertura do Sínodo Diocesano da Igreja Lusitana. Qual a sua mensagem para os Anglicanos portugueses?
No centro da minha mensagem está a ideia de que a vida Cristã começa com a nossa confiança em Deus. Tanto para cada um de nós, individualmente, como para o futuro em termos de salvação, e para o futuro da Igreja. Portanto, não tenham medo.
Este Sínodo é importante para os Anglicanos?
A nível mundial existem muitos Anglicanos e muitas igrejas, provavelmente a maioria não sabe da existência deste Sínodo, mas para os Anglicanos portugueses é muito importante. É o 100º Sínodo que realizam e reflete uma Igreja em crescimento e cheia de vida.
Ontem teve a oportunidade de falar com outros líderes religiosos de Portugal. Foi um encontro frutífero?
Só o tempo o dirá. Penso que foi um encontro útil, no sentido de permitir falar sobre assuntos importantes e não apenas sermos educados uns com os outros, mas ir a um nível mais profundo de amizade.
O diálogo ecuménico e inter-religioso está num bom caminho em Portugal?
Sinceramente, não sei. Os encontros que tive foram bons, mas em 24 horas não se consegue recolher informação suficiente.
A Igreja Católica também está num processo sinodal. O exemplo Anglicano pode ajudar?
Sim, definitivamente. Pode ajudar a apontar o que fazer e o que não fazer. É preciso evitar os nossos erros e provavelmente aprender com as coisas que funcionam bem. O envolvimento dos leigos e do clero, e não apenas dos bispos.
Recentemente, li um relatório de um dos nossos bispos que esteve presente em todo o Sínodo sobre a Sinodalidade (primira sessão decorreu em outubro), e ele dizia que foi uma experiência profundamente marcante. Foi muito bem preparado, e aprendemos muito sobre como fazer melhor as coisas para o nosso Sínodo, a partir do que os Católicos fizeram no Vaticano.
Como é a sua relação com o Papa Francisco?
Do meu ponto de vista, penso que é muito boa. Gostamos da companhia um do outro, rimos das piadas um do outro! Expressamos opiniões diferentes um do outro. Rezamos um pelo outro.
Encontrou-se com ele algumas vezes. Uma delas foi numa visita ao Sudão do Sul que teve como objetivo o diálogo ecuménico. Foi um bom exemplo do que é a cooperação entre diferentes Igrejas Cristãs?
Não foi apenas um bom exemplo, foi também um exemplo único! Nunca houve registo de uma viagem deste género na história do Cristianismo.
Há outros planos para viagens semelhantes no futuro?
Depende mais do Papa do que de mim. Ele é mais velho do que eu.
Ontem, na sua homília, referiu-se a dois textos de dois Papas, São João Paulo II e o Papa Francisco. Porque utilizou esses textos?
Penso que os utilizei porque ambos tiveram um impacto particularmente profundo, tanto no meu pensamento como naquilo que se pensa sobre o que é a justiça social.
A 'Laudato Si', a encíclica do Papa Francisco sobre o ambiente e a Criação, causou um enorme passo em frente na cooperação nas diferentes reuniões da COP (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas). E penso que a 'Centesimus Annus' (carta encíclica), de João Paulo II, teve um impacto semelhante ao longo do tempo. Acho que isso acontece pela forma como ele escrevia, que deu uma nova visão sobre a relação entre o povo trabalhador, as classes médias e os proprietários do capital. É um olhar muito significativo para essas questões.
E na verdade, também mencionei o Papa Bento XVI e o seu texto sobre o amor de Deus no mundo (carta encíclica 'Deus Caritas Est') e como isso é um grande avanço para permitir que as igrejas vejam juntas a atitude comum que têm para o futuro.
Ontem, após a missa, encontrou-se com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. De que falaram?
Falámos de futebol, Deus, a guerra na Ucrânia, a guerra na Terra Santa e as dificuldades de garantir que pessoas realmente boas ocupam cargos de chefia para lidar com todas estas coisas que estão a acontecer no mundo.
Sobre o futebol, de que falaram?
Falámos do Liverpool e do Everton.
Não falaram de clubes portugueses?
Não, porque não sei nada sobre clubes portugueses...
Tem de começar a ver a liga portuguesa!
Provavelmente sim, mas não sou um grande adepto de futebol nem de desporto no geral. Mas vivi em Liverpool.