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Marco Impagliazzo é secretário geral da Comunidade de Santo Egídio, no âmbito da qual decorrem, há vários anos, os Encontros de Roma (“Rome Iniciative”), com vista a ultrapassar a desconfiança recíproca entre líderes e fações rivais do Sudão do Sul. O objetivo é chegar a uma base de acordo para alcançar a paz em todo o território e realizar eleições, com transparência, em todo o território.
Apesar do caminho percorrido, já por duas vezes, foram suspensos estes encontros, mas hoje, diante do Papa, o Presidente Salva Kirr declarou a sua vontade em prosseguir o diálogo.
Entrevistado pela Renascença, Marco Impagliazzo sublinha a força das palavras que o Papa Francisco proferiu esta sexta-feira diante dos líderes do país.
Como avalia as palavras do Papa em Juba, diante das autoridades do Sudão do Sul?
O Papa fez um discurso profundo e poético, ao referir-se à beleza do Nilo, com as suas margens e diversidade que gera encontro. Temos de nos lembrar que o Papa foi protagonista de um gesto profético no Vaticano, em 2019, ao beijar os pés destes líderes do Sudão do Sul e ao pedir a paz. Hoje quis vir visitá-los, renovando o seu interesse e o seu desejo de paz para este povo.
Com tantos atropelos, rivalidades, conflitos sangrentos e sobressaltos que suspendem o caminho do diálogo, não se cansam de propor a paz?
O Papa não se cansou de esperar, também nós não devemos cansar-nos, porque hoje ouvimos palavras que colocaram no centro o sofrimento do povo do Sudão do Sul. E este povo merece um futuro melhor.
Como vê o anúncio feito hoje pelo Presidente Kirr?
É muito importante, porque o Presidente quis reiterar a intenção de sentar-se à mesa com os grupos armados que não assinaram o acordo de 2018, numa iniciativa mediada pela Comunidade de Santo Egídio. É importante que o Presidente tenha querido sublinhar o regresso a esta mesa, porque estamos convencidos de que o único modo para reduzir a violência é dar espaço à palavra. Por isso, através desta iniciativa, é importante devolver a esperança.
E como é que isso se faz?
Reconduzindo as pessoas para fora do campo da batalha e sentá-las à mesa das negociações. Depois, também é preciso rezar, porque a oração pela paz é também uma dimensão importante na Comunidade de Santo Egídio.