“Por vezes dizemos que há uma crise de refugiados, mas o que há e uma crise de liderança e de solidariedade”. A secção portuguesa da Amnistia Internacional organizou este domingo, 20 de junho, uma vigília na Praça Europa de forma a “sensibilizar para a necessidade de uma política europeia de migração e asilo centrada nos direitos humanos”.
À Renascença, Pedro Neto diz que os governos têm falhado e não foram criadas “rotas legais e seguras para estas pessoas” que acabam por se submeter a traficantes e a tratamentos indignos e degradantes, que potenciam o tráfico de seres humanos.
Para acompanhar a ação, foram convidados elementos do Governo – entre os quais, o primeiro-ministro, António Costa, a quem a Amnistia Internacional pretende entregar as cerca de 15 mil assinaturas do manifesto “Eu acolho”.
Pedro Neto garante que apesar das notícias sobre o fluxo de refugiados em direção à Europa através do Mediterrâneo terem desaparecido da atualidade mediática, “as viagens arriscadas e as mortes continuam a acontecer e com uma agravante: há no mar forças de segurança que olham para estas pessoas como inimigos e que as afrontam tentando-as devolver à Líbia ou aos países de origem”.
O porta-voz da secção portuguesa da Amnistia Internacional afirma que na “Grécia intimidam as pessoas que tentam a travessia com canhões de som, canhões de luz para tentar meter medo a estes migrantes que já vêm muito assustados de onde estão a fugir”.
Pedro Neto lança também um olhar sobre a realidade portuguesa e adianta que “daqui a algum tempo se deve ir de novo a Odemira ver como é que estão as coisas”. Mas também à Lezíria, ao Oeste e outras zonas que podem favorecer o tráfico de seres humanos e explorar quem se encontra num estado de vida de maior fragilidade.
“É necessário que haja responsabilidade por parte dos agentes e, também, que a sociedade civil esteja atenta e verifique que as soluções são implementadas muito além do ciclo mediático dos assuntos.”
"A vigília, que decorre entre as 21h00 e as 22h30, tem lugar às portas da Praça da Europa, junto às águas do rio Tejo, num paralelismo simbólico com as milhares de pessoas refugiadas que permanecem às portas da Europa, junto ao Mar Mediterrâneo. Outro elemento metafórico nesta praça é a obra de "artivismo" de dois irmãos iranianos, uma bandeira da UE feita em aço e arame farpado, materiais que lembram as barreiras físicas com que os refugiados se deparam quando chegam ao continente europeu, mas que é também um símbolo de esperança para todos aqueles que aqui procuram asilo", refere a Amnistia Internacional (AI) em comunicado.
Na vigília foram também convidados a estar presentes pessoas refugiadas a viver em Portugal, para contarem as suas histórias, e representantes da sociedade civil que trabalham no acolhimento e integração destas pessoas.
Também hoje, na praça Luís de Camões em Lisboa e na avenida dos Aliados no Porto, os coletivos HuBB - Humans Before Borders, HOM - Humanity on the Move, Meeru - Abrir Caminho e Refugees Welcome Porto organizam um memorial para "recordar as milhares de pessoas que morrem a tentar chegar à Europa".
No memorial, serão lidos os nomes das pessoas que morreram nas fronteiras europeias nos últimos anos, para alertar que "não são apenas um número".
A propósito dos 20 anos do Dia Mundial do Refugiado, também a Caritas Europa pede aos decisores políticos para "repensar a sua indiferença" e para que adotem uma atitude no sentido de proteger, acolher e integrar os refugiados.
O apelo surge numa altura em que a Caritas Europa está a promover o documentário "The Game: Fortaleza da Europa", produzido em parceria com a emissora nacional da Eslovénia e que denuncia "histórias chocantes e tocantes de pessoas, incluindo famílias e crianças, que foram violentamente e repetidamente empurradas pela polícia e forças fronteiriças entre a Croácia e a Bósnia e Herzegovina".