Pedro Santos Guerreiro diz olhar “com curiosidade” para a polémica que envolve a Associação 25 de Abril e a Iniciativa Liberal (IL), partido que foi impedido de participar na tradicional descida da Avenida da Liberdade para celebrar o 25 de abril.
O assunto foi suscitado esta terça-feira, depois de a comissão promotora do evento ter dito que só autorizaria a participação das entidades que pertencessem à organização.
“Este país, às vezes, parece que também precisa de inventar polémicas, como se já não bastasse os assuntos sérios que temos pela frente”, constatou Pedro Santos Guerreiro no seu habitual espaço de comentário dos fins de tarde na Renascença.
Para o jornalista, “não há nenhuma explicação que possa tornar aceitável recusar a presença de um partido político” no desfile por não estar alinhado em pensamento com a maioria das forças políticas que vão descer a Avenida da Liberdade.
Esta é uma situação que, “paradoxalmente, acaba por ajudar a IL a ganhar visibilidade. E se Vasco Lourenço disse que há aproveitamento político, e se a IL tinha esse objetivo, a Associação 25 de Abril caiu como patinhos, deu uma grande ajuda para ganhar visibilidade num assunto que não devia ser assunto”.
"Uma série de equívocos"
Já o líder da Iniciativa Liberal (IL) considera que o facto de a Associação 25 de Abril impedir a participação do partido na descida da Avenida da Liberdade, para comemorar a revolução democrática de 1974, é “mais uma surpresa do que uma polémica”.
Em declarações à Renascença, João Cotrim Figueiredo considera que tudo resulta de “uma série de equívocos que se estão a estabelecer: quando contactámos a comissão promotora das celebrações do 25 de Abril, não pedimos autorização para estar presentes, informámos, apenas que o íamos fazer e solicitámos orientações que pudessem ter a ver com a parte logística e com a crise pandémica que vivemos, porque poderíamos ter que limitar a nossa participação e observar as regras do distanciamento”.
No entanto, Cotrim Figueiredo diz ter ficado surpreendido por ter recebido “uma resposta que nos dá a entender que não nos será permitido participar no desfile” e que o mesmo “seria reservado às entidades integrantes da comissão promotora e mais ninguém”.
Para o líder e deputado único do IL, tal situação “não é compreensível” e “só pode ter a ver com uma opção política de não deixar alguém que não pertence ao espaço político da esmagadora maioria daquelas entidades participar livremente naquele desfile”.
Por outro lado, o liberal nega que o contacto com a Associação 25 de Abril tenha tido “um intuito provocatório”, porque, segundo diz, “a IL sempre participou nas manifestações do 25 de abril, desde que constituiu como partido em 2018”.
“Os contactos que tive com o coronel Vasco Lourenço foram muito cordiais e creio que ele não está alinhado com esta decisão que foi tomada. Provavelmente terá sido tomado de assalto por aquelas fações mais sectárias da esquerda portuguesa que se acha dona da liberdade e do 25 de Abril e tenta limitar a participação de outras forças políticas”, acrescentou.
Para João Cotrim Figueiredo, “quando uns se acham donos da liberdade e da democracia, é evidente que fazem crescer os extremos e os populismos”.
“Não vou a festas para as quais não fui convidado”
Nas últimas horas, o Livre, uma das entidades que integra a comissão que promove a tradicional descida da Avenida da Liberdade, manifestou, através de uma publicação no Twitter, a intenção de ceder quatro lugares da sua comitiva no desfile do próximo domingo, dois à IL e outros dois ao Volt Portugal.
“Fê-lo através das redes sociais e eu tenho um telefone. Nem sei se isso foi uma brincadeira ou uma ironia. Os convites, quando são sérios, fazem-se diretamente às pessoas e não nas redes sociais”, reagiu Cotrim Figueiredo que confirmou, ainda, que a IL já tem tudo organizado para o seu próprio desfile.
“Faço um apelo a todos aqueles que se reveem nos ideais do 25 de Abril e não se reveem na forma sectária de olhar para aquela data e para o início da democracia em Portugal, que apareçam também, porque teremos todo o gosto em que desfilem connosco”, concluiu.