Os novos apoios apresentados pelo Governo para combater a inflação reuniram críticas consensuais por parte dos restantes partidos, da direita à esquerda. As medidas apresentadas "deveriam ter acontecido há muito tempo", são um "tiro de pólvora seca" e "brincam com o desespero das famílias".
Joaquim Miranda Sarmento, o líder do grupo parlamentar do PSD, fala num pacote de medidas que "ignora completamente a classe média".
"O que o Governo está a fazer é perpetuar o empobrecimento dos portugueses. Aumenta a receita fiscal, cobra impostos como nunca foram cobrados e só redistribui uma pequena parte. É uma programa que já vem tarde e não olha para o que precisa a classe média".
O principal partido da oposição acusa ainda o Governo de hipocrisia nas medidas para travar o aumento da inflação nos bens alimentares: "O Governo reconhece, seis meses depois, que há um problema, mas não anuncia nada".
"Não sabemos qual o acordo feito, nem que bens alimentares vão ter a taxa de IVA reduzida de 6% para 0%. Ficamos com dúvida na sua eficácia, em Espanha não levou à redução dos preços. A nossa proposta era diferente, um apoio financeiro direto às famílias vulneráveis e uma redução do IRS na classe média. O caminho para a redução do défice é errado, porque foi com aumento de receita fiscal", conclui Miranda Sarmento.
Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, foi o primeiro a tomar a palavra ainda durante a conferência de imprensa dos ministros das Finanças, Fernando Medina, da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho.
"A redução do IVA da alimentação já deveria ter acontecido há muito tempo, tal como propôs a Iniciativa Liberal. Fernando Medina recusou isso em outubro, disse que não era possível assegurar que os preços fossem descer, mas está dada razão à Iniciativa Liberal. É mais uma medida tomada tardiamente e os portugueses tiveram de, mais uma vez, pagar impostos acima do que é aceitável", afirmou.
André Ventura, líder do Chega, descreve o programa do Governo como "um tiro de pólvora seca e um exercício de propaganda como há muito não estavamos habituados".
"Governo anuncia défice de 0,4%, passa a ideia que fez um brilharete, mas é um défice que não é feito às costas de nenhuma medida estrutural, mas do aumento brutal da coleta fiscal", diz.
O Chega acusa ainda Fernando Medina de ser pouco claro no acordo anunciado com a produção e distribuição alimentar: "Saudamos que a medida chegue tarde, mas chegue. Ninguém lhe perguntou qual é o acordo, sabemos zero sobre isso e, por isso, a confiança na eficácia é também zero".
"Os apoios têm também outra perversidade, porque esquecem por completo a classe média e as empresas", completa.
Esquerda acusa Governo de "falta de coragem"
O pacote de medidas também não reuniu satisfação à esquerda.
O Bloco de Esquerda, através de Pedro Filipe Soares, acusa o Governo de "brincar com o desespero das famílias".
"Deixou passar tempo precioso para responder às dificuldades com uma almofada financeira que não usou e que hoje se prova existir, como nós sempre dissemos. Não inevitável empobrecer o salário e as pensões. As medidas são insuficientes e estão longe de devolver às pessoas o que tiraram", atira.
O líder do grupo parlamentar bloquista acredita que o Governo "reconhece que o pacote é insuficiente quando afirma que são 3 milhões de pessoas carenciadas. Este número é a dimensão da falência das medidas do Governo. Cada vez mais gente está a empobrecer e ter deixado passar tanto tempo é uma irresponsabilidade".
O Bloco acusa ainda o Governo de "não ter coragem para fazer a diferença" e espera o ministro da Economia no Parlamento na próxima semana.
"Se devolve menos do que tem, na prática não está a ir a fundo para controlar os preços. O Bloco lançou uma interpelação ao Governo para garantir que na próxima quarta-feira temos o ministro da Economia para responder sobre estas matérias", termina.
Já o Partido Comunista afirma que "o que foi anunciado para a administração pública não cobre sequer a inflação de 2022, quanto mais a de 2023. Continua a impor a perda do poder de compra, quando o que importa é o aumento e valorização dos salários.
Paula Santos, líder parlamentar comunista, garante que a redução do IVA "não vai significar a redução dos preços e permite que seja absorvido pelos lucros dos grandes grupos económicos da distribuição".
"Políticas certas, contas certas"
Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, elogia o pacote anunciado pelo Governo. Redução no défice permite "continuar a apoiar os mais vulneráveis"
"Políticas certas, contas certas. É possível apoiar e estar ao lado dos portugueses, que se habituaram a ver conferências de imprensa em que os titulares dos cargos nas finanças se apresentavam para fazer cortes nos salários e pensões. Hoje não. O Governo apresenta bom resultado nas contas, na diminuição da dívida pública e, por isso, continua a apoiar os mais vulneráveis", atira.
[Atualizado às 14h28]