​É urgente acudir às urgências
30-03-2022 - 06:10

As urgências hospitalares debatem-se com uma afluência excessiva. Mas o problema é antigo. Sucessivos grupos de trabalho e várias comissões pouco ou nada adiantaram. Está em causa o Serviço Nacional de Saúde.

Nesta quarta-feira toma, finalmente, posse o Governo que elegemos há dois meses. Do novo Executivo faz parte, como ministra da Saúde, Marta Temido, personalidade que exerce este cargo desde o outubro de 2018 e que, portanto, conhece bem o setor da saúde.

Mas há um problema que a ministra Marta Temido ainda não conseguiu resolver – o das urgências hospitalares. Não me recordo de, em mais de meio século de jornalista e comentador, ter abordado um tema da área da saúde. Faço-o agora porque me parece que a crise das urgências é tão antiga e tão grave que mesmo um leigo na matéria pode legitimamente não só protestar como reclamar que, desta vez, Marta Temido resolva enfim o problema.

O que me levou a escrever este texto foi uma desenvolvida reportagem sobre as urgências, da jornalista Alexandra Campos, publicada na edição de domingo passado do jornal “Público”.

Ali se dá conta de um médico que, ao fim de 38 anos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), 23 dos quais a dirigir serviços de urgência, abandonou o barco e decidiu ir trabalhar num hospital privado. Ora este não é um caso isolado, longe disso.

Mais de metade dos chefes de equipa de urgência do hospital de Braga pediram a demissão. Comenta o médico acima referido, Jorge Teixeira, que naquele hospital chegou a ter 35 profissionais e agora são vinte. A perspectiva preocupante aponta para uma debandada de médicos do SNS.

Naquela reportagem lê-se que nos últimos dias as urgências dos hospitais voltaram a registar uma enorme afluência, sendo que entre um terço e metade dos casos não são realmente urgentes (são as chamadas falsas urgências).

Mas se a situação atual é séria – ver 900 doentes por dia é “uma barbaridade”, nas palavras do diretor das urgências do Hospital de São João, no Porto, Nelson Pereira – este problema arrasta-se há anos. Sucederam-se comissões e grupos de trabalho, porém, na prática, pouco ou nada se adiantou.

Daí a prioridade que as urgências hospitalares devem merecer no novo mandato da ministra da Saúde. Está em causa, afinal, a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde.