O romancista premiado Salmon Rushdie falou, em entrevista à New Yorker, sobre o ataque de que foi alvo, que o levou a passar seis semanas no hospital e na sequência do qual perdeu a visão num dos olhos. Rushdie disse que teve "sorte” e que o “principal sentimento é gratidão".
Na entrevista, o escritor admitiu já ter estado “melhor”, mas, “considerando o que aconteceu”, “não está assim tão mal”.
“Os maiores ferimentos estão curados. Tenho sensação no polegar e no dedo indicador e na metade inferior da palma da mão. Estou a fazer muita terapia de mãos e dizem-me que estou a ir muito bem”, conta o autor, admitindo, contudo, a dificuldade em “dactilografar e escrever devido à falta de sensibilidade nas pontas de alguns dedos”.
“Quando digo que estou bem, quero dizer há pedaços do meu corpo que precisam de ser constantemente examinados. Foi um ataque colossal”, acrescenta.
Na entrevista, Salman Rushdie falou ainda do trauma do ataque e da necessidade de repensar a sua abordagem à segurança.
“Tenho achado muito, muito difícil de escrever. Sento-me para escrever e nada”, refere.
Questionado sobre se deveria ter estado mais “atento” depois de se ter mudado para Nova Iorque, em 2000, após ter vivido escondido vários anos na sequência de uma "fatwa" do Irão por causa do livro "Os Versículos Satânícos", Rushdie afirmou ainda não saber a resposta.
“Tive mais de 20 anos de vida. Então, será isso um erro? Além disso, escrevi muitos livros”, diz.
“Sempre me esforcei muito para não adotar o papel de vítima", remata.
Salman Rushdie, um dos mais importantes escritores de língua inglesa, foi esfaqueado uma dezena de vezes em agosto de 2022 na Chautauqua Institution, em Nova Iorque, onde ia participar num evento moderado por Henry Reese, um dos fundadores de uma organização que oferece proteção a escritores ameaçados. O escritor foi transportado em estado grave para o hospital onde acabou por ficar cerca de seis semanas a receber acompanhamento hospitalar. Perdeu a visão de um dos olhos e o uso de uma das mãos.
O suspeito de esfaquear Salman Rushdie, Hadi Matar, de 24 anos, foi acusado de tentativa de homicídio em segundo grau e de agressão. Declarou-se inocente e o julgamento deverá ocorrer em 2024.
De relembrar que o escritor já tinha sido alvo de ameaças de morte, depois da publicação do livro “Os Versos Satânicos”, em 1988. À data, muitos muçulmanos reagiram ao livro com raiva, referindo que o retrato do Profeta Maomé insultava a sua fé.
Além disso, o então líder iraniano, Ayatollah Ruhollah Khomeini, emitiu uma “fatwa” [decreto], apelando ao assassinato do escritor e associando uma recompensa de três milhões de dólares.
O último romance de Rushdie, Victory City, foi terminado pouco antes do ataque e vai ser publicado esta semana. Retratando o século XIV, no sul da Índia, o livro é, segundo o autor, uma espécie de alegoria sobre o abuso de poder e a maldição do sectarismo.