Mais de um século anos depois, 14 de maio de 2019 foi o dia da edição número 35.549 do Panorama, um jornal diário da Venezuela. A última em papel.
Podia ser como aconteceu aqui em Portugal, com o Diário de Notícias. Digital de segunda a sexta-feira e em papel aos sábados, para quando o leitor tem mais tempo para leituras mais exigentes.
Mas não. Na Venezuela, o jornais tornam-se notícia porque deixam de estar à venda nos quiosques, deixam de estar à disposição dos leitores nos cafés. Não há papel, não há tinta, param as rotativas. Quatro milhões de habitantes do estado de Zulia ficam sem o diário de referência.
Zulia, cuja capital é Maracaibo, fica a 700 quilómetros de Caracas. Cerca de 3.500 portugueses estão registados nesta região.
A partir de agora, o Panorama só poderá ser lido em edição digital, mas o problema é que a internet passa mais tempo em baixo do que a funcionar.
É mais um retrato da crise na Venezuela. Com este jornal, são já 67 os meios de comunicação que fecharam total ou parcialmente desde 2013.
Desde o início deste ano, o Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela denuncia mais de 200 casos de violação dos direitos dos venezuelanos.
Aqui incluem-se: suspensão de transmissões ao vivo, ataques a trabalhadores da imprensa, limitações no livre acesso à Internet, atos de intimidação de parte dos organismos de segurança do Estado e um discurso insultuoso contra os jornalistas.
Estão comprovados 22 casos de violação à liberdade de expressão em 48 denúncias registadas no mês passado. Parece muito, mas - na verdade - abril até foi o mês com menor número de casos registados. Pelo menos, até agora.