O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assegura que, da sua parte, "não houve nenhuma manobra de encobrimento" de casos de abusos sexuais.
Em Fátima, durante a conferência de imprensa que antecede a Peregrinação Internacional Aniversária de 12 e 13 de outubro, D. José Ornelas afirmou que os dois casos que alegadamente o envolvem e que foram tornados públicos recentemente, um de um padre em Fafe (2003) e um de um sacerdote dehoniano num orfanato em Moçambique (2011), foram arquivados.
"Da minha parte posso dizer que estou tranquilo. Com o conhecimento que tenho hoje, foram tomadas as medidas adequadas, não houve nenhuma manobra de encobrimento. Houve, sim, o tratar as coisas segundo aquilo que era possível", disse o bispo de Leiria-Fátima que, contudo, lembrou que houve uma evolução na perceção pública destas situações.
"Este é o momento em que a justiça deve investigar e encontrar caminho", disse D. José Ornelas, que voltou a referir que nunca foi contactado pelo ministério público.
O bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal reconheceu que não vive numa Igreja perfeita, mas frisou que a mesma Igreja "não se pode resignar, parar e dizer: 'para fazer boa figura, dispensamos isto ou aquilo. Não'."
"Para nós, Igreja, cada caso é uma derrota. É uma derrota antes de mais porque alguém sofre. É uma derrota porque alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais. [É uma derrota] também porque contradiz radicalmente tudo aquilo que nós queremos, somos e queremos ser como Igreja, a nossa identidade e a nossa missão."
Questionado sobre as declarações do Presidente da República, a propósito das denúncias de abusos sexuais na Igreja, D. José Ornelas, que preside às cerimónias do Santuário de Fátima, referiu que "qualquer número é sempre demasiado e a gente trabalha para terminar com eles". E frisou: "As pessoas por trás de cada número não são um número. São pessoas, e pessoas com dramas muito grandes".
Por isso, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa pede que "se alguém tem algo para dizer, que o faça o quanto antes", aludindo, assim, ao prazo de 31 de outubro anunciado, esta semana, pela Comissão Independente para recolha de testemunhos.
Sobre o estudo que está a ser desenvolvido por este grupo de trabalho, D. José Ornelas adiantou ainda que a Igreja quer caracterizar a realidade dos abusos de menores. "Queremos saber onde [é que as vítimas] foram abusadas? Por quem? Isto é que nos permite depois tomar medidas."
Em relação ao eventual impacto que o tema dos abusos pode ter na realização da próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), agendada para o próximo ano, em Lisboa, o bispo de Leiria-Fátima garantiu que "o que está a ser feito é justo, porque há gente que sofreu" e "esse é talvez o melhor presente para a JMJ". "Estamos a fazer o que é preciso e contamos com os jovens para que esta atitude não volte para trás e as pessoas sejam respeitadas."
Neste momento, há mais de 400 testemunhos validados pela Comissão Independente que está a investigar abusos sexuais de menores ocorridos na Igreja em Portugal desde 1950.