O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) voltou a apelar esta terça-feira a um "cessar-fogo humanitário imediato" na Faixa de Gaza, no mesmo dia em que as autoridades do enclave palestiniano atualizaram o balanço de vítimas nos bombardeamentos de Israel, confirmando que mais de 4.790 pessoas já morreram desde 7 de outubro.
"A situação no Médio Oriente está a ficar mais terrível a cada hora. A guerra em Gaza continua e arrisca-se a transbordar para toda a região. As divisões estão a fragmentar sociedades e as tensões ameaçam resvalar", destacou António Guterres no arranque do encontro do Conselho de Segurança da ONU, a decorrer hoje em Nova Iorque.
"Num momento crucial como este, é vital ser claro quanto aos princípios, a começar pelo princípio fundamental do respeito e proteção de civis", adiantou Guterres, pedindo que as partes cheguem a acordo quanto a um cessar-fogo humanitário, para permitir a entrega de água, comida e combustível aos 2.3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza.
"Para aliviar este sofrimento épico, para facilitar e garantir a segurança da entrega de ajuda humanitária e facilitar a libertação de reféns, reitero o meu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato."
O secretário-geral da ONU repetiu ainda os pedidos para que se continue a negociar o que diz ser "a única fundação realista para a verdadeira paz e estabilidade: a solução de dois Estados".
"Até a guerra tem regras. Temos de exigir a todas as partes que cumpram e respeitem as suas obrigações sob a lei internacional humanitária", destacou Guterres, sublinhando que os envolvidos devem "ter atenção constante na condução de operações militares para poupar os civis, respeitar e proteger hospitais e respeitar a inviolabilidade das infraestruturas da ONU, que hoje estão a abrigar mais de 600 mil palestinianos".
Para Guterres, "há claras violações" do direito internacional a serem cometidas no conflito, que o deixam "profundamente preocupado" com a situação no terreno.
O secretário-geral da ONU condenou inequivocamente os "atos de terror" e "sem precedentes" de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, salientando que "nada pode justificar o assassinato, o ataque e o rapto deliberados de civis".
Contudo, admitiu ser "importante reconhecer" que os ataques do grupo islamita "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "está sujeito a uma ocupação sufocante há 56 anos".
"Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer", prosseguiu Guterres.
O líder da ONU sublinhou, porém, que "as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas", frisando ainda que "esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano".
Na sequência do ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, a 7 de outubro, o Estado hebraico declarou guerra ao grupo islamita e tem mantido a Faixa de Gaza cercada e sujeita a bombardeamentos constantes.
Até agora, de acordo com o último balanço das autoridades locais em Gaza, já morreram mais de 5.971 pessoas e há mais de 16 mil feridos.
Do lado israelita, 1.400 pessoas morreram no ataque do Hamas, que levou para Gaza pelo menos 222 reféns, tendo libertado quatro na última semana.