O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, saúda que haja finalmente um plano de contingência para conter a epidemia de coronavírus, mas diz que vem tarde.
“O plano já devia estar concluído e preparado há mais de dois meses, em vez de a senhora ministra ter ido alegremente ido em excursão receber os compatriotas que vieram da China, deviam ter estado concentrados a elaborar este plano”, acusa o sindicalista.
Roque da Cunha questiona mesmo a ministra da Saúde, Marta Temido, “se está tranquila, se dorme tranquilamente com aquilo que não andou a fazer nos últimos meses?”
Por outro lado, o médico lembra que o grande problema está na “realidade” do SNS, que não tem meios suficientes para cumprir o plano de maneira eficaz.
Entre os problemas mais graves estão a “capacidade de diagnóstico muito limitada”. “Mesmo os hospitais onde se fazem os testes ainda não estão totalmente equipados”, afirma o dirigente sindical. “Neste momento só existem dois institutos que podem fazer a confirmação. É fundamental que se alargue esta rede de diagnóstico e que este plano nacional tenha repercussões e organização a nível regional e local”, diz à Renascença.
O secretário-geral do SIM garante que a disponibilidade dos médicos para ajudar no combate ao coronavírus é total, incluindo os que trabalham no privado e os reformados.
Questionado sobre se os médicos reformados não são também uma população de risco, Roque da Cunha desvaloriza e apela a que todos os médicos sejam protegidos.
“A profissão de risco é ser médico. São os profissionais de saúde aqueles que têm maior probabilidade de apanhar a doença. Naturalmente, a idade é fator de risco acrescido. Mas os médicos estão habituados, têm é de ser protegidos”, diz o sindicalista.
“Não podemos sequer aceitar que se entenda que umas meras mascaras cirúrgicas são capazes de proteger médicos junto a fortes suspeitas de coronavírus. Tem de haver meios, já deviam estar disponíveis”, afirma.
“Faltam meios de proteção, máscaras para utentes, máscaras para forças de segurança, profissionais de saúde”, denuncia.
Sobre a possibilidade de as USF serem chamadas a responder à epidemia, o médico lembra que “é difícil” uma resposta eficaz “não havendo salas de isolamento, não havendo nas USF material de proteção e não havendo resposta na linha de apoio ao médico”.
Vagas nos centros de saúde todas preenchidas. "O plano não devia prever restrição de consultas?"
Maria João Tiago, também dirigente do SIM, é médica de família num centro saúde da grande Lisboa. Depois de olhar para o plano de contingência, diz sentir falta de "orientações claras".
"Neste momento, estou a fazer uma atividade clínica normalíssima. Tenho a minha lista toda preenchida. Neste momento não devia estar a haver restrição de consultas?", questiona.
A médica diz estar a dar consultas programadas, de vigilância, que não são essenciais, e considera que o plano já devia prever isso. "Não devia haver um plano depois para resolver à pressa o que não se conseguiu prever", critica.
Maria João Tiago lembra que os médicos de família funcionam com listas "muito cheias", o que faz com que se reunam nas salas de espera "grávidas, idosos para vigiar a hipertensão e a diabetes". A médica lembra que é necessário haver cuidado com possíveis casos de doença aguda relacionada com o coronavírus. "O plano de contingência devia prever todos estes passos", afirma.
[Notícia atualizada às 18h25 com declarações de Maria João Tiago]