De França a Orlando, o Estado Islâmico aposta na criação de "lobos solitários"
14-06-2016 - 17:23
 • Hugo Monteiro

"Lobos" à solta a copiar comportamentos extremistas, eis a estratégia do jihadismo moderno, diz o porta-voz do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.

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A estratégia que estará a ser seguida pelo autodenominado Estado Islâmico é típica dos movimentos jihadistas, defende o porta-voz do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT).

Em entrevista à Renascença, Filipe Pathê Duarte refere que é habitual este tipo de movimentos instigar acções solitárias para depois as reivindicar, sobretudo porque estes ataques são facilmente repetíveis.

No espaço de poucos dias registaram-se dois ataques terroristas mediáticos. Em Orlando, na Flórida, um homem abriu fogo numa discoteca frequentada por homossexuais, fazendo 49 mortos, e em França outro homem matou um polícia e a sua mulher, na noite de segunda-feira. Em ambos os casos os ataques foram reivindicados pelo Estado Islâmico.

“Estamos aqui, na verdade, a falar de uma estratégia já clássica do jihadismo: instigar acções de lobos solitários, que agem não dependente de uma cadeia de comando, de uma verticalização ou de um verdadeiro planeamento dentro de uma estrutura maior. Portanto, basta uma organização espontânea, individual, autónoma, para depois haver a reivindicação de que se age em nome de uma organização jihadista, seja o Estado Islâmico, seja a Al-Qaeda”, explica.

Para o especialista do OSCOT, o grande risco destes casos é a facilidade com que motivam imitações. “Este tipo de acções tem sempre um carácter profundamente mimético, pode ser facilmente repetido. São casos de sucesso, fáceis de fazer, sem ser necessária uma grande organização", diz.

“É preciso também lembrar que, no último mês, o porta-voz do Estado Islâmico apelou a que no mês do Ramadão houvesse ataques por todo o mundo ocidental, sejam eles de que tipo forem”, acrescenta.

A estratégia adoptada por estas organizações dificulta o trabalho dos serviços de segurança. Omar Mateen, por exemplo, que atacou em Orlando, já tinha sido interrogado pelo FBI, mas depois libertado por não se considerar que constituía uma ameaça.

“É extremamente complicada a monitorização completa de quem possa vir a ser potencial jihadista porque não se consegue identificar uma estrutura ou uma organização. São acções individuais, estilo ‘faça você mesmo’ da jihad. Ou seja, bebe da ideia e age de acordo com a ideia, sem ser precisa qualquer tipo de autorização ou planeamento. Ora, isto torna muito difícil vigiar quem está apto a levar a cabo este tipo de acções”, afirma Filipe Pathê Duarte.